Fernanda Magnotta

Fernanda Magnotta

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Morte de presidente agita sucessão no Irã e adiciona camada à crise do país

A morte do presidente do Irã surge como um tema complexo e relevante no início dessa semana. Embora ele não seja a figura mais central no processo decisório do país, seu falecimento precoce ocorre em um período particularmente sensível. Este evento coincide com o processo de sucessão de Ali Khamenei, o Líder Supremo do Irã, ampliando as incertezas já existentes. O Irã enfrenta diversos dilemas domésticos, regionais e internacionais, e a morte de seu presidente provavelmente intensificará as disputas internas de poder na alta cúpula do governo.

Nos últimos anos, o Irã está imerso em uma série de significativos problemas políticos. O programa nuclear iraniano persiste como fonte de tensão internacional, especialmente com os Estados Unidos e Israel, complicado por negociações intermitentes, sanções e ameaças militares. As sanções econômicas ocidentais têm deteriorado a economia iraniana, resultando em alta inflação e desemprego, o que diminui a qualidade de vida e eleva o descontentamento interno.

O governo também enfrenta críticas severas por sua gestão no campo dos direitos humanos, manifestando-se na repressão a protestos, restrições à liberdade de imprensa e discriminação contra minorias. Além disso, o país tem sido palco de numerosas respostas a passeatas que acabam em violência policial.

Problemas de corrupção e ineficiência na governança são persistentes, com frustração popular quanto à falta de transparência nas instituições públicas. Essas questões estão interconectadas e exacerbam a incerteza e volatilidade, impactando tanto a estabilidade interna quanto as relações exteriores do Irã.

A sucessão do Líder Supremo do Irã, Ali Khamenei, reveste-se, portanto, de uma complexidade e incerteza consideráveis, dado o seu longo período de influência desde 1989 e sua avançada idade que levanta questões sobre sua saúde e a gestão nos próximos anos.

No sistema político iraniano, a Assembleia de Especialistas, composta por clérigos, é encarregada de escolher, supervisionar e, se necessário, destituir o Líder Supremo. Para ser considerado apto, um sucessor precisa demonstrar fé e lealdade à Revolução Islâmica, bem como aos princípios do governo teocrático do Irã.

Além disso, o apoio do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, em inglês) é crucial, dada a sua influência nos rumos do país. A capacidade de manter a estabilidade e continuidade do regime também é um critério vital, pois o Irã valoriza a ordem e a prevenção de qualquer instabilidade interna.

Mojtaba Khamenei, filho de Ali Khamenei, tem sido apontado como possível nome para suceder seu pai, mas sua escolha poder ser interpretada como nepotismo e potencialmente pode gerar controvérsia devido ao aumento de sua influência nos círculos políticos e religiosos. Paralelamente, Ebrahim Raisi, que era o atual presidente do Irã e ex-chefe do Judiciário - conhecido por sua postura conservadora e lealdade ao regime - também vinha sendo considerado um possível candidato.

Com sua morte, o desafio, agora, passa, para Khamenei, por gerenciar o equilíbrio de poder entre as elites políticas e religiosas do Irã em um momento chave de sua sucessão. A incerteza sobre quem poderia ser o próximo líder e como a transição ocorrerá adiciona uma camada de instabilidade à já complexa política interna e externa do Irã em tempos de polarização, crise sistêmica e guerras no entorno.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes