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As consequências do lançamento de foguete pela Coreia do Norte

Líder norte-coreano Kim Jong-un observa foguete lançado de base no nordeste da Coreia do Norte - Kyodo/Reuters
Líder norte-coreano Kim Jong-un observa foguete lançado de base no nordeste da Coreia do Norte Imagem: Kyodo/Reuters

07/02/2016 10h07

A Coreia do Norte lançou um foguete de longo alcance neste final de semana, o que foi interpretado por críticos como um desafio à comunidade internacional.

O anúncio oficial da TV norte-coreana informou que o foguete colocou um satélite em órbita, mas suspeita-se que a real intenção tenha sido testar tecnologia de mísseis que poderiam transportar armas nucleares.

Países como Japão e Coreia do Sul condenaram o lançamento. Os Estados Unidos pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), que deverá ocorrer ainda neste domingo em Nova York.

Para o correspondente da BBC em Pequim (China), John Sudworth, o lançamento não altera de maneira significativa o equilíbrio de forças na região, mas é um ato de provocação, daí a reação dura de Seul, Tóquio e Washington.

"O significativo é o momento desse lançamento, apenas um mês depois do quarto teste nuclear da Coreia do Norte e com o Conselho de Segurança da ONU ainda avaliando sanções por esse ato", afirmou.

Segundo Sudworth, é improvável que o objetivo da operação tenha sido apenas um lançamento de satélite, pois o país poderia ter feito isso a um custo muito menor usando instalações da China, um antigo aliado.

A China, diz o correspondente, continua a manter uma posição cautelosa em relação a Pyongyang, pois teme empurrar para o colapso um regime já isolado politicamente e sob fortes sanções econômicas.

"Com esse lançamento, a Coreia do Norte dá mais um passo em direção a seu objetivo declarado de desenvolver um sistema de armas nucleares (algo que ainda provavelmente está a anos de distância), enquanto o impasse internacional sobre o que fazer em relação ao país deverá continuar", diz.

"Vapor fascinante"

Em nota, a agência de desenvolvimento aeroespacial da Coreia do Norte disse que o satélite de observação terrestre Kwangmyongsong-4 entrou em órbita 10 minutos após o lançamento, no centro espacial Sohae, na província de Phyongan do Norte.

Um apresentador da TV estatal disse que a operação foi ordenada pelo líder norte-coreano, Kim Jong-un, e que o regime comunista planeja lançar outros satélites no futuro.

"O vapor fascinante do satélite cruzando o céu limpo e azul no começo de fevereiro e no limiar do Dia da Estrela Brilhante", foi a descrição do lançamento.

Um porta-voz do Minstério da Defesa da Coreia do Sul disse que um navio de guerra do país detectou o lançamento às 22:30 deste sábado (horário de Brasília).

Em encontro a portas fechadas neste domingo com a agência de inteligência sul-coreana, deputados da Coreia do Sul foram informados que a operação deve ser considerada, na prática, um teste de míssil balístico, porque um eventual satélite usado na operação seria inútil.

Isso porque, segundo essa avaliação, o peso estimado da carga do foguete é de 200 kg, o dobro de um foguete lançado pela Coreia do Norte em 2012, mas ainda assim muito mais leve do que a faixa de 800-1.500 kg, usual em lançamentos de satélites.

Condenação internacional

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, classificou a operação como "flagrante violação" de resoluções da ONU e alertou para a adoção de "medidas significativas" para que Pyongyang justifique o ato.

A China disse "lamentar" as ações, mas instou as "partes relevantes" nessa questão a "abster-se de tomar ações que possam agravar as tensões na Penínsila Coreana".

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, condenou a operação como "absolutamente intolerável".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse que Pyongyang deve interromper "ações provocativas".

A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, pediu sanções ao que chamou de "ato de provocação". E anunciou que começará, com os EUA, os maiores exercícios militares conjuntos entre os países.

As tratativas entre Seul e Washington incluem a possibilidade de implantar um sistema de defesa antimísseis na região. A China, principal aliado da Coreia do Norte na região, já se opôs a esse sistema no passado.

Ambição nuclear

Os testes de foguetes e de artefatos nucleares da Coreia do Norte são vistos como etapas cruciais rumo ao objetivo do país de obter mísseis de longo alcance com ogivas nucleares.

Resoluções do Conselho de Segurança da ONU vetam a realização de testes nucleares ou de mísseis balísticos pela Coreia do Norte.

Pyounyang diz que seu programa espacial é de natureza científica, e que suas iniciativas bélicas são necessárias para se defender do que classifica como décadas de hostilidade dos EUA.