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Fujimorismo é derrotado, mas continua sendo força decisiva no Peru

Pierina Pighi Bel - BBC Mundo

09/06/2016 19h56

Em uma corrida disputada voto a voto e cuja apuração se arrastou por quase uma semana, o economista Pedro Pablo Kuczynski, do Partido Peruanos por el Kambio (PPK), foi eleito nesta quinta-feira o novo presidente do Peru, com 50,12% dos votos.

A vantagem sobre sua rival, Keiko Fujimori, foi de apenas 41 mil votos (ela teve 49,88%).

Keiko era apontada como favorita por ter liderado as pesquisas de opinião, mas perdeu espaço na reta final da campanha, quando p PPK reforçou as acusações de corrupção contra a família Fujimori.

Com os ânimos acirrados por causa da pequena margem de diferença entre os candidatos, dezenas de simpatizantes de Keiko promoveram protestos diante do órgão de administração eleitoral do país, alegando suposta fraude no pleito.

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Mesmo com a derrota de Keiko, no entanto, o fujimorismo continuará a ser poderoso e a ter uma força política decisiva no país nos próximos cinco anos.

Isso porque o partido de Keiko, o Fuerza Popular, ganhou a maioria absoluta no Congresso, que é unicameral. De 130 parlamentares eleitos, 73 pertencem ao partido. O PPK obteve 18 cadeiras no Congresso, enquanto o Frente Amplio obteve 20.

O maior expoente da força política do partido de Keiko é seu irmão mais novo, Kenji Fujimori, que foi o congressista mais votado do país.

Em 2011, ele também foi eleito o congressista mais votado, e sua irmã obteve o mesmo mérito em 2006 - mas até então eles não tinham a maioria no Congresso.

O resultado deste ano permite a Kenji assumir a presidência do Congresso. Até agora, no entanto, ele indicou que não o fará.

"Que fique claro: o próximo presidente do Congresso não serei eu", escreveu o congressista em seu Twitter.

Ainda que os fujimoristas não presidam o Congresso, o número de cadeiras lhes dá uma ampla vantagem. Mas o que eles farão com ela?

Liberdade plena

A bancada fujimorista poderá aprovar e vetar leis sem a necessidade de apoio de outros grupos políticos.

"O fujimorismo terá plena liberdade para passar leis que definem as funções e competências dos poderes do Estado, de governos regionais e municipais, além das que tratam sobre exploração de recursos naturais", afirma Heber Campos, cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Ele diz ainda que o Fuerza Popular necessitaria de apenas mais 14 votos de outras bancadas para modificar a Constituição, eleger um Defensor Público e todos os outros magistrados do Tribunal Constituicional e os membros do Banco Central do país.

Tensão

Com a vitória do PKK, será criado um cenário de permanente tensão entre os poderes do Estado, segundo o cientista político Heber.

"O PPK terá, desde o primeiro momento, que formar alianças com os partidos contrários ao fujimorismo e ter pontes com o próprio fujimorismo, para que eles façam acordos em temas importantes para o país", disse Heber, que também é assessor da comissão de Constituição do atual do Congresso.

Caso contrário, o fujimorismo poderia bloquear o PPK.

"Se o presidente apresentar projetos de lei, o fujimorismo poderia bloqueá-los por razões políticas", afirma o cientista político.

Juan Sheput, congressita eleito pelo PPK, reconheceu à BBC Mundo que o fujimorismo, se desejar, poderia não negociar.

"Se o fujimorismo quer vender a ideia de que mudou, terá que colaborar e não se converter em um elemento de obstrução. Se não, vai mostrar que continua sendo igual."

Mercedez Aráoz, a congressista mais votada do PPK, agrega: "Esperamos que não seja um partido que bloqueie o desenvolvimento do país."

Antes de os resultados oficiais serem publicados, Kenji Fujimori afirmou em sua conta de Twitter:

"Se obtivermos a maioria no Parlamento, seremos uma maioria que fará pontes e será muito respeitosa com as minorias."