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'Saí da rota do caminhão para recarregar celular', diz brasileira em Nice

Área próxima ao local em que houve o ataque terrorista em Nice, na França, é tomada por homenagens  - REUTERS/Pascal Rossignol
Área próxima ao local em que houve o ataque terrorista em Nice, na França, é tomada por homenagens Imagem: REUTERS/Pascal Rossignol

Issaac Mumena - BBC Africa, Kampala

15/07/2016 17h34

A DJ brasileira Xainna Oliveira, 40, diz ter escapado por pouco do ataque que deixou mais de 80 mortos em Nice, no sul da França.

Ela mora perto do local onde o caminhão deu início à sequência de atropelamentos e transmitia via celular a queima de fogos do Dia da Bastilha para a família no Brasil.

"Meu celular ficou sem bateria e voltei para casa para recarregá-lo. Acho que o que me salvou foi ter ficado sem celular, senão eu estava na rota do caminhão e sabe Deus o que teria acontecido comigo", contou à BBC Brasil.

Xainna diz ter achado que os gritos e estrondos vinham da televisão. "Meu celular tocou, e era meu cunhado. Ele estava desesperado, querendo saber se eu estava viva."

Segundo ela, a irmã e o cunhado gritavam do outro lado da linha que estavam presenciando um atentado - o casal, que também mora na cidade e tinha ido assistir aos fogos, voltava para casa a pé.

"Meu marido estava me filmando logo depois dos fogos. Foi ele desligar o aparelho e a gente viu o caminhão vindo em alta velocidade para cima das pessoas. Nos jogamos nas pedras, em direção à praia. Eu senti o vento do caminhão batendo na minha perna", relata a irmã, Camila Oliveira, de 42 anos.

Ela e o marido, Guillaume Chabosseau, perderam o caminhão de vista, segundo conta. Mas ficaram apavorados com o que viram imediatamente depois.

"Não consegui dormir. As cenas ficam se repetindo na minha mente. Muito sangue, choro e grito", diz.

Segundo o casal, o caminhão surgiu exatamente do ponto onde Xainna estava. "Me desesperei ao perceber que o motorista saiu atropelando gente do ponto onde minha irmã estava. Só me acalmei depois que ouvi a voz dela", diz Camila.

Xainna conta que se deparou com uma cena digna de filme de horror ao voltar para a rua. "Era um clima de pânico, muita gente chorando, gritando. Corpos de mortos e feridos espalhados pelo chão. Pessoas tentando ressuscitar quem estava estendido no chão. Cada passo que eu dava, mais coisa horrível eu via."

Na França desde 2004 e moradora de Nice desde 2007, ela diz agora repensar seu futuro. "Não penso em sair daqui por ora, mas está difícil demais. Está quase se transformando em rotina. O máximo que dá para fazer agora é evitar multidões", afirma. "Dá muito medo de não saber quando e como o próximo ataque pode acontecer."

Camila, no país há seis anos, espera momentos difíceis para imigrantes. "Vai ser mais difícil nas fronteiras. E vai aumentar o preconceito."

França como alvo de ataques

O atentado se junta a outros dois grandes ataques ocorridos na França, na capital Paris, nos últimos meses: o ataque à redação do jornal "Charlie Hebdo" em 7 de janeiro de 2015, que deixou 12 mortos, e os atentados coordenados de 13 de novembro do ano passado, onde 130 pessoas morreram.

O primeiro foi cometido por dois irmãos ligados à Al-Qaeda e o segundo, realizado em localidades diferentes --como a casa de shows Bataclan e os arredores do estádio Saint-Denis--, foi organizado pelo Estado Islâmico.

O atentado em Nice ocorre em um contexto de ameaça terrorista muito elevada, especialmente na França, envolvida em ações militares na Síria contra o Estado Islâmico. O país acaba de sediar a Euro 2016 em meio aos temores de ataques e chegou a cogitar partidas em estádios sem o público presente --o que não ocorreu.

Estado de emergência terminaria no fim de julho

O massacre também acontece menos de duas semanas antes do final programado para o estado de emergência na França, previsto para o dia 26 de julho. No entanto, o presidente da França, François Hollande, afirmou em pronunciamento à nação que vai prolongar em três meses as medidas de emergência. A proposta precisa ser aprovada pelo Congresso francês.

Até o momento, o ataque não foi reivindicado por nenhum grupo.

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