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Como a explosão em Beirute derrubou o governo do Líbano

AFP
Imagem: AFP

10/08/2020 14h46

Premiê anuncia renúncia dizendo que 'sistema de corrupção é maior que o Estado'; governo enfrentava protestos por crise política e econômica.

Depois de uma semana de tristeza e revolta pela enorme explosão no porto de Beirute, que matou ao menos 220 pessoas na terça-feira (04/08), a cúpula do governo do Líbano caiu.

O primeiro-ministro Hassan Diab anunciou sua renúncia na segunda-feira (10/08), em um discurso televisionado.

Nele, afirmou que o "crime" da explosão era resultado da corrupção endêmica e pediu a responsabilização dos culpados.

"Descobri que o sistema de corrupção é maior que o Estado, e que este último é oprimido por esse sistema e não consegue confrontá-lo ou se livrar dele."

Diab declarou também que está "dando um passo atrás" para estar ao lado do povo "lutando a batalha por mudanças".

"Declaro hoje a renúncia deste governo. Que Deus proteja o Líbano", afirmou.

Antes, ministros de Justiça, Informação e Meio Ambiente já haviam deixado seus cargos.

Nitrato de amônio

O presidente e o premiê libaneses já haviam dito que a explosão foi resultado da detonação de 2,7 mil toneladas de nitrato de amônio que fora armazenado no porto seis anos antes, sem as devidas medidas de segurança.

Parte da população acusa a liderança do Líbano de ter responsabilidade no episódio, atribuindo o problema à negligência e à corrupção no país. Uma combinação de crise político-econômica constante, em meio à pandemia e ao episódio da explosão aumentou a insatisfação popular com o governo do país.

Durante o fim de semana, manifestantes invadiram prédios do governo no centro de Beirute e entraram em confronto com a polícia.

Segundo o prefeito de Beirute, Marwan Abboud, ainda há 110 pessoas desaparecidas após a explosão da terça-feira. Por toda a cidade, centenas de milhares de pessoas ficaram desabrigadas ou estão morando em lares bastante danificados pelo acidente.

Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, existe uma grande escassez de itens básicos entre os desabrigados. "Eles precisam de abrigo, comida, produtos de limpeza. E precisam de ajuda para recolher o que sobrou de suas casas", afirmou à BBC a porta-voz da instituição, Rona Halabi.

Do descontentamento à renúncia

O descontentamento da população vem crescendo há anos. No final de 2019, um plano oficial de cobrar impostos sobre o uso do WhatsApp derivou em protestos em massa contra a crise econômica e a corrupção.

A pandemia de coronavírus vinha contendo as manifestações populares, que voltaram a eclodir após a explosão no porto. Muitos consideraram insuficientes as promessas de investigação do governo.

Estimativas oficiais são de que a explosão tenha causado mais de US$ 3 bilhões em danos de infraestrutura, mas que as perdas econômicas do Líbano cheguem a US$ 15 bilhões.

O país já vivia uma profunda crise econômica antes do desastre, com um número crescente de famílias sendo empurradas à fome e à pobreza.

Agências da ONU advertem que haverá uma crise humanitária se não for possível levar, com rapidez, carregamentos de alimentos e medicamentos. Isso se agrava pelo fato de que o porto destruído na explosão era a principal via de abastecimento de Beirute.

Tudo isso ajuda a explicar a pressão sobre o governo libanês, forçando a renúncia.

Doadores internacionais prometeram quase US$ 300 milhões em ajuda ao Líbano, em uma conferência virtual realizada no domingo liderada pelo presidente francês, Emmanuel Macron.

Um comunicado conjunto dos doadores, porém, fez menção a preocupações com a corrupção, afirmando que a assistência financeira deve ser "entregue diretamente à população libanesa, com o máximo de eficiência e transparência".

Os doadores afirmaram que novos aportes financeiros dependerão de as autoridades libanesas se comprometerem com "medidas e reformas esperadas pelo povo".


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