Violência no Rio

Rio deve perder uma geração para mudar quadro de violência, diz Beltrame

Manuel Pérez Bella

No Rio

  • Bruno Gonzalez/Agência O Globo

    Policiais apontam armas para morador da comunidade de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, durante protesto no dia 17 de outubro

    Policiais apontam armas para morador da comunidade de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, durante protesto no dia 17 de outubro

O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou que o projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) não será encerrado, mas reconheceu que, mesmo com a expulsão das facções do crime organizado, "não é possível" acabar com o tráfico de drogas, nem com a violência nos bairros pobres, onde ainda se escondem alguns membros das organizações criminosas e onde existem "várias gerações" de famílias que trabalharam para elas.

"O Rio de Janeiro tem essa história e vamos, talvez, perder uma geração para mudar um quadro [de violência[ que, infelizmente, o Estado deixou chegar ao ponto em que chegou", disse Beltrame. "Se o Rio de Janeiro não continuar [a pacificação], não vai virar a página da violência e não poderá deixar as comunidades mais próximas das condições do restante da cidade." Ele concedeu entrevista à "Agência Efe" por ocasião do quinto aniversário do início das UPPs.

Para Beltrame, é "muito difícil" que aconteça um retrocesso na iniciativa, mesmo com uma mudança política no governo estadual, porque "a sociedade se apoderou" dele e porque existem "dados estatísticos que mostram que funcionou".

Desde o final de 2008, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro inaugurou 34 UPPs para levar a presença ostensiva das forças de segurança nas favelas, que estiveram sob o comando do crime organizado durante quatro décadas.

A Secretaria de Segurança elaborou um plano estratégico para expandir o programa, que atualmente atende 233 favelas, para chegar a 40 UPPs no final de 2014 e a um total de 45 ou 46 em 2018, segundo Beltrame.


"Hoje a polícia é maioria nesses lugares e você tem a garantia de que ela não vai sair. O Estado é mais forte do que essas pessoas (traficantes de drogas). A liberdade de ir e vir das pessoas está garantida, mas isso não quer dizer que nunca mais tenhamos um tiro de arma de fogo em um lugar onde havia guerra", comentou.

Recentemente em algumas favelas "pacificadas" houve episódios de violência, o que o secretário atribuiu a tentativas de "desestabilização" do programa de segurança por parte de alguns criminosos. Beltrame, porém, descartou que os criminosos tenham a pretensão de reconquistar as comunidades das quais foram expulsos.

Expulsão de traficantes permite abertura de novos negócios em favelas


"Não acho que venha a acontecer uma retomada do território. Se essas pessoas entrarem hoje com 100 homens, eu entro amanhã com 200. Vamos reagir imediatamente a qualquer ação do tráfico", disse.

Beltrame afirmou ainda que as facções criminosas estão "sofrendo" com as UPPs e garantiu que 90% dos traficantes que fogem das favelas acabam presos.

O secretário disse que as UPPs têm "muito mais aspectos positivos do que negativos", mas admitiu que os casos polêmicos, como as denúncias de tortura nas dependências da unidade nas favelas, foram "muito ruins" para a imagem do programa.

O exemplo de maior repercussão foi o do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde julho, quando foi levado até a sede da UPP da Rocinha. O caso rendeu a prisão de 25 policiais, acusados de torturá-lo e assassiná-lo.


Segundo Beltrame, para fomentar uma "mudança de cultura" dos policiais cariocas, estão sendo introduzidas modificações no curso de formação dos policiais das UPPs, que antes "era muito voltado para a guerra" e agora está enfocando "servir o cidadão".

As UPPs completam exatamente hoje cinco anos. No dia 19 de novembro de 2008, a polícia tomou o controle do morro Santa Marta, em uma operação que, mais tarde, deu início à ocupação permanente da comunidade.

Beltrame disse que o governo estadual decidiu se estabelecer no Santa Marta depois da operação, com a qual desarticulou a quadrilha que atuava na favela, mas afirmou que a ideia de ocupar as comunidades já era ventilada há algum tempo.

Plano de pacificação das favelas do Rio completa cinco anos


"A ideia de ocupar e se estabelecer nas comunidades nasceu em conversas na Secretaria, mas já estava na cabeça de todos os cariocas. Todo mundo sabe que a favela tem que ser integrada à cidade", opinou.

Apesar de o programa ter recebido elogios em muitas esferas e de seus bons resultados na melhora dos índices de violência, Beltrame advertiu que a segurança pública é "um bem efêmero" que desaparece com um único tiro.

"Em segurança pública nunca ganhamos, empatamos. Nunca saímos vitoriosos. Nunca estarei satisfeito com os índices de criminalidade enquanto estiver aqui", concluiu.

 

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