Maduro pede "diálogo amplo" em Conferência de Paz; oposição boicota evento

De Caracas

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, iniciou nesta quarta-feira (26) a Conferência Nacional de Paz com um pedido de diálogo "amplo e tolerante" entre todos os setores do país diante de um grande espectro da sociedade nacional, mas que não contou com a presença da aliança opositora.

"Nem vaias, nem aplausos, nem palavras de ordem, este é um evento para o diálogo, o mais amplo possível, tolerante e respeitoso. Abrimos a casa para isso", afirmou Maduro ao abrir a conferência no palácio presidencial de Miraflores.

Acompanhado pelo presidente da Assembleia Nacional (Parlamento), o governista Diosdado Cabello, o gabinete ministerial e com a presença de líderes religiosos, empresários e artistas, entre outros, o chefe do Executivo agradeceu a presença de todos e estendeu a mão aos integrantes da ausente Mesa de Unidade Democrática (MUD), a aliança de oposição.

"Aqueles setores que não aceitaram participar desta reunião, não vamos fazer um drama porque alguém disse que não vem. Vamos tentar fazer com que aceitem estarem presentes na próxima reunião", disse Maduro.

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A MUD anunciou na manhã desta quarta-feira sua recusa a participar da conferência, ao considerar que o convite representava um "simulacro de diálogo", do qual não poderia fazer parte.

Maduro propôs, antes de ceder a palavra aos participantes, a criação de uma comissão de "coordenação e união" de "todos os que estão aqui hoje".

Além disso, colocou pelo menos três pontos de trabalho essenciais que vão desde o respeito à Constituição "por parte de todos", passando por "acabar com os focos de violência que existem no país" e terminando com "a defesa de nosso país diante do intervencionismo e a defesa de nossa soberania".

Durante os discursos, o secretário-geral da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), Jesús González Zárate, ofereceu a contribuição da Igreja Católica para a criação de "espaços de encontro para a solução dos problemas da Venezuela para a construção do bem comum".

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O deputado opositor Pedro Pablo Fernández, que compareceu à reunião apesar da negativa da MUD, pediu que se "criasse um clima de paz" e, como um dos primeiros fatores para isso, que fossem estabelecidas "as responsabilidades em todos os incidentes de violência e a punição dos culpados".

O governador de Anzoátegui, o chavista Aristóbulo Istúriz, destacou que "a sociedade não pode premiar ninguém que ponha uma 'guaya' (arame farpado) na rua, o diálogo não pode silenciar isso, o diálogo tem que exigir a condenação desses fatos", disse, em alusão aos arames colocados para interromper o trânsito e que causaram a morte de pelo menos uma pessoa.

O presidente do grêmio empresarial Fedecámaras, Jorge Roig, pediu a Maduro que escute "vozes distintas das que o acompanham", dizendo que, neste momento, existem protestos legítimos que não justificam a violência.

"Nós acreditamos no diálogo. O diálogo não significa abrir mão de posições, temos profundas diferenças com seu sistema econômico e seu sistema político, mas a democracia, graças a Deus, permite que lidemos com essas diferenças como estamos fazendo no dia de hoje", assinalou.

"Cada um de nós tem sua responsabilidade e o senhor necessita de um empresariado que corrija erros, para que não ouça somente as vozes que normalmente um presidente no isolamento do poder está acostumado a escutar", acrescentou.

O prefeito de Caracas, o governista Jorge Rodríguez, garantiu que os venezuelanos, apesar de "tantas agressões", têm "uma vocação indeclinável pela paz", mas, em sua opinião, o país "foi vítima de uma das mais graves infestações e guerras psicológicas que já foram vistas na história das comunicações no mundo inteiro".

Protestos no país

A "Conferência de Paz" acontece em um contexto de fortes protestos na Venezuela desde o dia 12 de fevereiro por parte de setores estudantis e de oposição política contra as decisões do governo.

Segundo fontes oficiais, os protestos deixaram 13 mortos, número que chega a 16 de acordo com fontes extraoficiais.

Maduro afirmou nesta quarta-feira que são 50 mortos, incluídas as pessoas que não conseguiram chegar aos hospitais para ser atendidas por culpa das barricadas nas ruas.

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