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Mujica acusa extrema direita no Brasil de querer "criminalizar" governo Dilma

Roberto Stuckert Filho/PR
Imagem: Roberto Stuckert Filho/PR

Em Montevidéu

14/07/2015 19h34

O ex-presidente do Uruguai, José Mujica (2010-2015), disse nesta terça-feira (14) em seu programa de rádio que a extrema direita brasileira promove uma campanha para "criminalizar o PT porque não pode aceitar a liderança de homens e mulheres que não são da sua entranha".

"Há uma dura, frenética e pensada campanha da extrema direita que procura criminalizar o PT, a senhora presidente (Dilma Rousseff) e Lula", opinou Mujica, que acrescentou que essa conjuntura lembra a época de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), "esse grande presidente da história do Brasil".

O ex-presidente não fez referências a episódios concretos, mas assinalou que essa campanha de "criminalização começou há mais de dois anos, e usa toda a artilharia possível, naturalmente tendo como ponta de lança os grandes meios de comunicação que estão ao seu serviço".

Para ele há um Brasil "conservador, reacionário, que pensa com um selo paulista como se São Paulo fosse uma nova metrópole, e que como tal o resto do país deve se subordinar".

Desde o início deste ano, o chamado Movimento Brasil Livre, nascido em São Paulo, convocou protestos em várias cidades do país contra a presidente brasileira, a acusando de ter responsabilidade no escândalo de desvio de dinheiro público na Petrobras.

Em maio, cerca de 300 manifestantes em Brasília entregaram ao Congresso um documento exigindo o início de um julgamento político para a cassação de Dilma por corrupção.

Nesse contexto, Mujica classificou como natural que se queira "obscurecer a façanha" que o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva significou porque "esse ranço capitalista do Brasil imperial não pode aceitar a liderança de homens e mulheres que não são de sua entranha, mas definitivamente tendem a ser e representar as imensas maiorias".

"Tirar 40 milhões de cidadãos da miséria. É isso o que significou o governo do PT e principalmente o impulso de Lula, assinando talvez em termos quantitativos a maior façanha da história econômica da América Latina, se por façanha se entende como vivem as pessoas e não simplesmente números, papéis", avaliou.

Além disso, Mujica sustentou que a política de inclusão social realizada pelo governo petista no Brasil desde 2003 não foi suficiente porque ainda há "diferenças internas avassaladoras que conseguiram diminuir, mas só diminuir", e afirmou que ainda há "muito pela frente".

"Este dilema político que está colocado hoje definirá a sorte de milhões de brasileiros que, conscientes ou não, ainda sofrem discriminação de caráter econômico nesse país continental, tão rico e tão importante para o resto dos latino-americanos", ressaltou.

No final dos quase 10 minutos que dedicou a este tema na rádio local "M24", o ex-presidente uruguaio disse que "está com aqueles que dentro do Brasil lutam pela igualdade, pelo desenvolvimento, por compartilhar a riqueza, por fazer crescer a justiça social e por multiplicar a irmandade entre os povos latino-americanos".

"O outro é uma lição imperial que já conhecemos e naturalmente não podemos ser neutros", concluiu.