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EUA e Israel viram a página sobre Irã para colaborar em interesses comuns

10/11/2015 00h45

Miriam Burgués.

Washington, 9 nov (EFE).- O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deixaram para trás suas diferenças sobre o acordo nuclear com o Irã nesta segunda-feira e se comprometeram a colaborar em interesses comuns, como a segurança de Israel e confrontar as ações "desestabilizadoras" de Teerã.

A reunião de hoje entre ambos na Casa Branca foi a primeira desde que foi fechado em julho o histórico acordo nuclear com o Irã, algo que acentuou as diferenças já existentes entre os dois líderes.

"Não é nenhum segredo que o primeiro-ministro e eu tivemos uma forte divergência" sobre o pacto nuclear, admitiu o próprio Obama em declarações aos jornalistas durante o início do encontro no Salão Oval.

No entanto, o presidente americano reiterou que não há "nenhum desacordo sobre a necessidade de se garantir que o Irã não obterá uma arma nuclear" e também não há divergências sobre "a importância das ações contundentes e desestabilizadoras que o Irã pode estar realizando".

Netanyahu, que esteve em Washington em março - a convite da oposição republicana - para oferecer um polêmico discurso no Congresso americano, no qual criticou diretamente o governo Obama pelas negociações com o Irã, hoje sequer mencionou o pacto nuclear com Teerã.

O primeiro-ministro falou aos jornalistas sobre a "instabilidade" atual no Oriente Médio e citou a "selvageria" do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), assim como a "agressão e o terror" do Irã.

Obama, por sua vez, opinou que a segurança no Oriente Médio "se deteriorou em muitas áreas" e condenou, "nos termos mais fortes", os ataques contra "cidadãos israelenses inocentes", em referência à atual onda de violência pelo controle da Esplanada das Mesquitas em Jerusalém.

Obama compareceu à reunião consciente de que não haverá um acordo de paz, nem negociações sérias, entre israelenses e palestinos nos 14 meses que lhe restam de mandato na Casa Branca, conforme adiantaram na semana passada seus assessores.

Hoje, o presidente dos EUA disse que queria conversar com Netanyahu sobre as possibilidades de "voltar ao caminho da paz", que garanta o cumprimento das "aspirações legítimas dos palestinos" e, ao mesmo tempo, proteja a "segurança" de Israel.

Quanto a Netanyahu, o premiê israelense tinha dito dias antes de sua reeleição como chefe de governo em março que não haveria um Estado palestino se ele seguisse no comando do Executivo. No entanto, Netanyahu se retratou dois dias depois dessa declaração, que não agradou nem um pouco a Casa Branca.

Hoje, o primeiro-ministro expôs a Obama que está "comprometido" com uma solução de "dois Estados para dois povos" para conseguir a paz no Oriente Médio.

"Igualmente, quero deixar claro que não renunciamos à nossa esperança de paz. Nunca renunciaremos à esperança da paz", ressaltou Netanyahu aos jornalistas.

Pouco depois, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, comentou que as declarações de Netanyahu são "encorajadoras" e acrescentou que a reunião de hoje com Obama era uma oportunidade para que o primeiro-ministro expusesse "algumas ideias" para avançar em direção a um processo de paz que contemple a solução de dois Estados.

Obama e Netanyahu também conversaram sobre a renovação do acordo bilateral de segurança e defesa pelo qual os Estados Unidos oferecem a Israel mais de US$ 3 bilhões em ajuda por ano.

O acordo atual expira em 2017 e o objetivo de Israel é aumentar esse montante anual para até US$ 5 bilhões, mas não está previsto que essa negociação seja concluída nesta viagem de Netanyahu a Washington.

Obama fez questão de enfatizar nesta segunda-feira que a segurança de Israel é uma das "maiores prioridades" de sua política externa.

Amanhã, Netanyahu seguirá em Washington e oferecerá um discurso no Center for American Progress (CAP), um instituto progressista, o que foi interpretado como uma tentativa do primeiro-ministro de se reconciliar com os democratas após seu polêmico discurso no Congresso em março.

Pouco antes de sua viagem a Washington, a decisão de Netanyahu de nomear Ran Baratz como porta-voz de seu governo causou polêmica. Baratz é um comentarista conservador que, há poucos meses, acusou Obama de antissemitismo e que também criticou duramente o secretário de Estado John Kerry.

Netanyahu se comprometeu com o governo americano a "rever" sua decisão de nomear Baratz, segundo o Departamento de Estado dos EUA. EFE

mb/rpr

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