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Milhares de peruanos protestam contra anúncio de libertação de Keiko Fujimori

Keiko Fujimori em 2018, enquanto aguardava seu julgamento na Suprema Corte do Peru - Suprema Corte do Peru/AP
Keiko Fujimori em 2018, enquanto aguardava seu julgamento na Suprema Corte do Peru Imagem: Suprema Corte do Peru/AP

Wyloën Munhoz-Boillot e Carlos Noriega

Em Lima

26/11/2019 13h05

Milhares de pessoas invadiram as ruas de Lima na noite de segunda-feira (25), depois que o Tribunal Constitucional do Peru se pronunciou a favor da libertação da líder opositora Keiko Fujimori. A chefe do partido Força Popular e ex-candidata à presidência está em prisão preventiva desde novembro de 2018, à espera de seu julgamento.

O anúncio da decisão de libertação de Keiko Fujimori foi feito pelo presidente do Tribunal Constitucional do Peru, Ernesto Blume: "A corte está de acordo para aceitar o habeas corpus". O recurso, apresentado pela irmã da líder opositora, Sachi Fujimori, vai permitir o fim da prisão preventiva cumprida por quase 13 meses.

Keiko é suspeita de corrupção relacionada ao megaescândalo da construtora brasileira Odebrecht. Blume esclareceu, no entanto, que o Tribunal Constitucional não se pronuncia sobre o mérito da acusação, pois uma decisão de absolvição ou condenação deve ser proferida posteriormente pelas instâncias judiciais responsáveis.

Logo depois do anúncio da corte, vários partidos políticos, além de organizações sociais e estudantis, convocaram um protesto no centro de Lima. "Keiko, corrupta, fique na prisão!", bradavam os manifestantes.

Andres Eduard, membro do partido Frente Amplio, é um dos autores da convocação dos protestos. "Recentemente foi apresentada uma série de provas com gravações que mostram que mais de quarenta empresas financiaram ilegalmente a campanha de Keiko. E, apesar disso, o Tribunal Constitucional a libertou. É o que nos deixa indignados e é por isso que estamos na rua!", afirmou à RFI.

Entre os manifestantes, havia homens e mulheres de todas as idades e famílias inteiras. Fani Castro participou da mobilização com a filha de 10 anos, exibindo um cartaz com a mensagem: "Peruanos, acordem!". "Esse é o momento de nos unirmos para colocar um fim à impunidade e à corrupção. Faz mais de 20 anos que lutamos contra a família Fujimori, que é um símbolo de corrupção no país", diz.

Interferência nas investigações

Keiko Fujimori, de 44 anos, foi enviada à prisão preventiva em 31 de outubro de 2018 por supostamente interferir nas investigações do Ministério Público no escândalo da empreiteira Odebrecht. A empresa confessou ter distribuído ilegalmente milhões de dólares entre membros da classe política peruana, entre eles, quatro ex-presidentes.

Para evitar mais interferências nas investigações, o promotor José Domingo Pérez solicitou ao tribunal 36 meses de prisão preventiva para a primogênita do ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000). Em seguida, o período foi reduzido para 18 meses pelo Supremo Tribunal.

Keiko Fujimori deve ser libertada nos próximos dias, enquanto o processo em que é acusada de corrupção continua. Ela é suspeita de ter recebido US$ 1 milhão da Odebrecht, montante que jamais foi declarado. Recentemente, empresários peuanos também confessaram ter repassado de forma ilegal milhões de dólares para as campanhas eleitorais da ex-candidata.

Marido comemora

"Justiça foi feita, uma justiça divina. Deus é grande. Quero que minha esposa saia da prisão para irmos juntos para casa nos encontrarmos com nossas filhas", comemorou o marido de Keiko, o americano Mark Vito Villanella. Ele realizava uma greve de fome há 13 dias pedindo a libertação da mulher. Aliados e simpatizantes da líder também se reuniram do lado de fora da prisão feminina de Chorrillos, no sul de Lima, para festejar o anúncio do Tribunal Constitucional.

Considerada como uma das personalidades mais importantes do Peru entre 2016 e 2018, Keiko Fujimori vai enfrentar uma situação difícil ao sair da prisão, bem como uma forte queda em sua popularidade. O atual presidente, Martin Vizcarra, convocou eleições antecipadas para o dia 26 de janeiro, depois da dissolução do Parlamento no último 30 de setembro: um cenário complexo que incita ainda mais a desconfiança da população em sua classe política.