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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Apoiadores de Lula divergem sobre desempenho do petista nas redes sociais

Colunista do UOL

19/04/2022 12h30

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Ainda em fevereiro deste ano, um experiente petista, em conversa com esta coluna, disse: "Eu temo que qualquer alteração significativa nas pesquisas pode dar pânico porque a campanha está desorganizada". Desde então, Jair Bolsonaro (PL) vem demonstrando crescimento constante nos principais levantamentos, enquanto Lula permanece estacionado. Motivo suficiente para fazer ferver os bastidores do PT e, agora, expor divergências em sua rede de apoios na sociedade.

O pânico prenunciado pelo veterano de várias campanhas presidenciais de Lula (derrotadas e vitoriosas) pode ainda não ter se alastrado de vez, mas já aparece em crises pontuais, especialmente na comunicação e na área jurídica do partido. Há grande convergência entre esses dois pilares nas campanhas eleitorais "modernas", "digitais", e o PT parece ainda não ter compreendido a importância deles, afirmam dirigentes do partido, marqueteiros e estrategistas ouvidos em privado pela coluna.

O mal-estar, no entanto, vai aos poucos se tornando público. Em artigo publicado nesta terça-feira (19) no site DCM, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, integrante do grupo de advogados e juristas Prerrogativas, apoiador declarado de Lula, escreveu: "Muito chato e constrangedor notar que está se cristalizando nossa derrota nas eleições deste ano. Um desespero". Mais do que apenas uma importante opinião pessoal, o texto vocaliza a posição de alas do PT que enxergam a pré-campanha de Lula comendo poeira na corrida contra adversários. "Vamos enfrentar a força das redes sociais com estilingue e sinais de fumaça. Vamos ser extinguidos. No campo do direito será um outro embate perdido", afirmou Kakay.

Coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho tem opinião divergente da do colega advogado, mas reconhece as adversidades no âmbito digital. "Lula tem consciência plena das dificuldades que enfrentamos. Vai, em breve, anunciar sua coordenação de campanha. O grande desafio é, de fato, a campanha nas redes. Enfrentaremos novamente a indústria das fake news e uma das suas mais potentes molas propulsoras, o ódio. Mas resistiremos e venceremos", disse ele à coluna. Questionado sobre o conflito na campanha, Carvalho, filiado ao PT e sempre próximo a Lula, diz que o "clima na campanha é outro" e que a "crise foi fabricada pela imprensa".

O Prerrogativas é um dos esteios de Lula fora das instituições da política e teve importante papel na defesa pública do ex-presidente, inclusive no Supremo Tribunal Federal, e também na gênese da aliança do petista com Geraldo Alckmin. Segundo Carvalho, o grande ativo de Lula é o seu legado na Presidência e ele prevalecerá na campanha. "Nosso candidato está em primeiro lugar nas pesquisas e tem uma das menores rejeições. Está conectado , como sempre, com o sentimento do povo, do Brasil real, e conversará com todos os setores da sociedade civil."

As críticas dos petistas recaem sobre o jornalista Franklin Martins, responsável pela comunicação da pré-campanha, e sobre o advogado Eugênio Aragão, pela área jurídica. Ambos são considerados "analógicos demais" , nas palavras de um dirigente, para comandar sozinhos essas duas esferas. A solução seria profissionalizar ainda mais essas duas áreas, algo que a direção do PT tem prometido fazer quando a campanha eleitoral tiver início.

O comando nacional nega que exista uma crise interna, ainda que Franklin Martins e Jilmar Tatto, secretário de comunicação do PT, não escondam de mais ninguém sua inimizade.