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Agenda verde desaparece em cenário de polarização e radicalização eleitoral
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Com o recrudescimento da disputa entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) já no primeiro turno, em uma conjuntura de intensa luta ideológica direita versus esquerda, em cenário econômico de inflação alta e com a democracia sob ataques do presidente, a chamada agenda verde permanece, ao menos até agora nesta pré-campanha eleitoral, relegada aos "grupos de estudos dos planos de governo" e praticamente restrita aos presidenciáveis e aos partidos do centro.
Lula tem deixado claro em seus discursos e postagens que a prioridade máxima de sua pré-campanha é o combate à fome nos moldes tradicionais: em linhas muito gerais, combinando proteção social com crescimento econômico e ampliação do crédito. O ex-presidente petista ainda não conseguiu, por exemplo, conquistar o apoio público de Marina Silva (Rede), sua ex-ministra do Meio Ambiente e uma referência mundial na agenda verde. Pelo lado bolsonarista, Carlos Bolsonaro, filho do presidente, criticou recentemente o tema em suas redes sociais, escancarando as restrições do clã ao assunto.
"Os pré-candidatos tradicionais ainda não perceberam a importância da agenda verde, de uma agenda ambiental em bases econômicas e sociais. Essa pauta agora está no centro político", afirma Emerson Kapaz, empresário e uma das lideranças nacionais nesse setor. "A visão tem de ser pragmática e de sustentabilidade do planeta porque precisamos pensar na herança ambiental que vamos deixar para as gerações futuras", diz ele, que será candidato a deputado federal pelo PSD-SP.
Presidente da Frente Parlamentar de Energia Renovável, o deputado federal Danilo Forte (União Brasil-CE) diz que a agenda verde precisa estar entre as prioridades do debate, porém, reconhece que ela está quase esquecida. "Produzir energia barata é a única saída para o Brasil. Não existe outro país no mundo em melhores condições do que o nosso para liderar esse processo", afirma ele.
Forte, citado pela pré-campanha de João Doria (PSDB) a presidente como "referência" na área, afirma que pretende convidar os presidenciáveis para falar sobre o tema na frente que preside. "Os pré-candidatos precisam entrar no debate, até porque eles dizem querer o voto do Nordeste, e não tem hoje em dia projeto de desenvolvimento da região que não passe pela agenda verde e pelas energias limpas", diz.
Esta será a primeira eleição presidencial desde 2010 sem a participação de Marina Silva como candidata. Segundo Kapaz, a ausência da ex-ministra do Meio Ambiente na urna dificulta a busca da visibilidade necessária para o tema, mas esse vácuo precisa ser preenchido. "Essa é a grande agenda do Brasil, pensar em projetos de compensação de carbono e até em uma reforma tributária verde", diz ele, que tem conversado com ambientalistas, empresários e até com pré-candidatos ao Congresso de outros partidos para articular uma maneira de manter o assunto vivo na campanha.
Por ora, nem a guerra entre Rússia e Ucrânia e seu impacto sobre o petróleo e o gás natural parece ter sensibilizado os dois líderes das pesquisas para o tema das energias renováveis. Ambos costumam abordar o assunto sempre pela ótica tradicional, da dependência do óleo mineral combustível. Enquanto Lula e Bolsonaro polarizam o debate com suas agendas, nomes da chamada "terceira via" esboçam suas ideias para a revolução verde.
"É preciso ter clareza que o Brasil sabe fazer transição energética. Nós temos um histórico de sucesso quando o assunto é deixar uma matriz de energia para outra. O primeiro passo, como sabemos por nosso passado, é ter um governo com planejamento que garanta uma transição segura, sem atropelos e sem riscos para quem produz e quem consome", afirma Simone Tebet, pré-candidata a presidente pelo MDB.
"O Brasil não pode viver de sobressaltos de energia por causa da dependência de chuvas. Precisamos diversificar a matriz energética e acelerar os investimentos em energia renovável, eólica e solar", diz o pré-candidato a presidente pelo Partido Novo, Felipe d'Avila.
Presidente nacional do PV, partido que faz parte da federação com o PT e, portanto, está com Lula, José Luiz Penna, diz que a agenda verde e os demais temas de impacto ambiental estarão contemplados na campanha do petista e em seu plano de governo. "Nossas fundações, a Herbet Daniel e a Perseu Abramo, estão trocando informações permanentemente. Porque a federação e o futuro governo estão convencidos de que a pauta ambientalista é fundamental para a recuperação econômica do país, que passa pela reinserção internacional do Brasil", afirma ele.
Do lado bolsonarista, a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina é uma referência na área, mas ainda não se sabe qual será o real poder dela, que é pré-candidata ao Senado pelo Mato Grosso do Sul, na elaboração do plano de governo de Bolsonaro. O atual presidente tem se mostrado mais afeito às ideias de Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia e um entusiasta da energia nuclear.
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