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Alberto Bombig

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tarcísio assume como herdeiro natural do espólio tucano e do bolsonarismo

Tarcísio de Freitas assumiu cargo de governador de São Paulo neste domingo (1) na Alesp - TOMZÉ FONSECA/Estadão Conteúdo
Tarcísio de Freitas assumiu cargo de governador de São Paulo neste domingo (1) na Alesp Imagem: TOMZÉ FONSECA/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

01/01/2023 13h27Atualizada em 01/01/2023 13h35

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Tarcísio Gomes de Freitas tomou posse no governo de São Paulo com a missão de juntar os cacos gerados por duas explosões, a do bolsonarismo e a do império tucano no Palácio dos Bandeirantes. No horizonte dessa estratégia, está a intenção de se transformar em uma espécie de herdeiro natural do conservadorismo de centro-direita no país, em um político capaz de atuar como contrapeso a Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT.

Em seu discurso na Assembleia Legislativa, ainda pela manhã, Tarcísio deixou claro esse propósito ao agradecer a Jair Bolsonaro (PL) e ao citar tucanos históricos, como Mario Covas (1930-2001), Franco Montoro (1916-1999) e José Serra. Fez também menção a Gilberto Kassab, o presidente do PSD que será seu secretário de Governo. Mais tarde, no Palácio dos Bandeirantes, defendeu o controle dos gastos públicos no âmbito nacional, em um recado direto a Lula.

O primeiro agradecimento a Bolsonaro foi protocolar, porém importante para evitar que Tarcísio entre imediatamente na lista de traidores do ex-presidente, atualmente encabeçada pelo ex-vice Hamilton Mourão. A traição em política costuma cobrar um preço alto, seja na hora de firmar acordos, seja na hora do voto na urna.

"Na política, inicio meus agradecimentos, como não poderia deixar de ser, ao presidente Jair Bolsonaro, que me lançou esse desafio. Que enxergou o que ninguém havia enxergado naquele momento, quanta ousadia", disse. Um gesto singelo, mas importante porque ocorre no momento em que o bolsonarismo está em transe após a ida do ex-presidente para os Estados Unidos.

O novo governador sabe que milhões de eleitores e simpatizantes do clã Bolsonaro vagarão órfãos de uma liderança política e ideológica nos próximos meses. Mas também é possível perceber em seu discurso que ele buscará manter uma distância segura dos extremistas, da turma que pede intervenção militar e fica acampada em frente aos quartéis. Tarcísio falou, por exemplo, em "respeito aos adversários", algo impensável para o bolsonarismo mais radical.

No discurso proferido mais tarde no Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio defendeu a gestão de Jair Bolsonaro na Presidência da República, mas sempre pelo viés da tecnicidade, nunca do radicalismo. "Se olharmos o gasto da União em 2022, ele será 0,5 ponto porcentual do PIB, menor que em 2018. Será a primeira vez desde a redemocratização que um presidente lega para o seu sucessor um gasto menor do que o herdado do governo anterior", disse.

Na citação aos tucanos, feita ainda na Assembleia, está embutido o desejo de se apropriar do espólio do império do PSDB, que começou a ser construído no estado em 1995, com Mario Covas. Goste-se ou não, é inegável a quantidade de obras e de políticas públicas que o período tucano no poder estadual legou aos paulistas.

Não por outro motivo, Tarcísio citou, no discurso no Palácio dos Bandeirantes, o programa de alimentação popular Bom Prato e a criação da rede de escolas técnicas.

É justamente em cima dos escombros do bolsonarismo e do império tucano que o novo governador, com ajuda de Kassab, profundo conhecedor da política paulista, terá de erguer sua fortaleza rumo a 2026, quando decidirá se tenta a reeleição ou arrisco concorrer ao Planalto.