André Santana

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Opinião

Por que Beyoncé escolheu Salvador para lançar o filme Renaissance

Muita gente duvidou, mas é fato: Beyoncé esteve em Salvador na noite desta quinta-feira, 22, durante a festa de lançamento do filme que registra a turnê 'Renaissance', realizada pela artista ao longo deste ano.

Cidade mais negra fora do continente africano, reconhecida pela rica produção musical negra, Salvador foi escolhida para a primeira exibição do documentário no Brasil, e também para a realização da festa 'Club Renaissance' que contou com a presença da própria Beyoncé no Centro de Convenções, localizado na Orla da cidade.

As especulações começaram cedo e mobilizaram intensamente as redes sociais, em um misto de brincadeiras e torcida para que de fato ela chegasse.
Quem poderia imaginar que, em meio às fortes chuvas que caíram na cidade nos últimos dias da Primavera, a capital baiana seria aquecida pela ilustre visita. A expectativa agora é se Beyoncé vai aproveitar alguns dias em Salvador.

Beyoncé em Salvador
Beyoncé em Salvador Imagem: Reprodução/ X


"Vocês são únicos"


Os fãs convidados para assistirem ao filme, e já felizes por participarem da festa, foram surpreendidos pela possibilidade de estarem tão perto da Queen Bey.

A artista subiu ao palco, depois de horas de expectativa do público, com a bandeira da Bahia na mão e justificou sua escolha:

"Não há ninguém como vocês. A primeira e única, Bahia. Quero que vocês aproveitem o resto da noite. Estou muito feliz de ver vocês", disse a diva norte-americana para delírio dos fãs que ainda custavam acreditar na surpresa.

"Era muito importante para mim estar aqui na Bahia. Renaissance é sobre liberdade, beleza, alegria, resiliência. Tudo que vocês brasileiros representam. Estou muito feliz de estar aqui e ver o rosto lindo de vocês", completou Beyoncé no curto tempo em que esteve no palco.

A baixa qualidade dos registros compartilhados nas redes sociais, com imagens sem foco ou tremidas, dão conta da emoção e perplexidade dos presentes diante da musa.

Entre as fãs, as cantoras Gaby Amarantos e Ludmila (que já foi Mc Beyoncé) também publicaram registros do encontro com Beyoncé.


Presença em Salvador consolida projeto estético e político


Com a chegada em Salvador, porto atlântico de convergência e preservação das heranças africanas, Beyoncé consolida o movimento de exaltação da sua própria negritude, que se intensificou nas obras lançadas a partir de 2010 e foi potencializado em álbuns como Lemonade, de 2016 e The Lion King: The Gift, de 2019, que reúne a trilha do filme O Rei Leão.

Nas letras das canções, na estética dos clipes e na performance dos shows, Beyoncé valoriza os elementos da identidade negra, em homenagens a artistas precursores, na denúncia do racismo e na valorização da cultura e da religiosidade africanas.

Em Salvador, esse projeto estético e político de Beyoncé faz todo sentido. A cidade, marcada pela desigualdade racial e pelo passado colonial, produz e exporta uma arte que resulta justamente da beleza, da alegria e da resiliência que marcam a presença negra no mundo.

Beyoncé entrou na brincadeira com a expectativa dos fãs
Beyoncé entrou na brincadeira com a expectativa dos fãs Imagem: Reprodução Instagram


Música negra mundial se encontra em Salvador


Em Renaissance, álbum de 2022, Beyoncé homenageia a música negra das décadas de 1970 e 1980, com ritmos como dance, house e R&B.

A festa de lançamento em Salvador foi animada pelos tambores da banda percussiva Didá, formada apenas por mulheres.

O grupo foi fundado em 1993, no Centro Histórico de Salvador, por Antônio Luís Alves de Souza, o mestre Neguinho do Samba, que anos antes havia criado o ritmo 'samba-reggae', quando regia a banda Olodum.

A batida dos tambores do Pelourinho já tinha atraído outra estrela da música mundial: Michael Jackson. O Rei do Pop esteve na cidade, em 1996, para gravação do clipe da canção They Don't Care About Us, dirigido por Spike Lee.

Beyoncé atualiza localização na bio e confirma presença em Salvador
Beyoncé atualiza localização na bio e confirma presença em Salvador Imagem: Reprodução Instagram
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Somente neste ano de 2023, Salvador já recebeu outros artistas internacionais que são ícones da cultura negra. Em novembro, as atrizes norte-americanas Viola Davis e Angela Basset estiveram na cidade para participar do Festival Liberatum, que reuniu nomes da música, do cinema e do afro-empreendedorismo.

Também em novembro, Salvador sediou a terceira edição brasileira do Afropunk, o maior festival de música negra do mundo. Realizado em metrópoles como Londres, Paris e Joanesburgo, o evento é reconhecido por exaltar a auto-estima das pessoas negras, em uma celebração à estética e às referências da África e da Diáspora.

A expectativa é que todo barulho e visibilidade causados pela escolha de Beyoncé desperte o interesse do mercado de produção cultural para a capital da Bahia.

Recentemente, o secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, utilizou as redes sociais para criticar a falta de apoio do mercado empresarial e publicitário para os eventos produzidos pela comunidade negra de Salvador.

O secretário reclamou da falta de visão das marcas em não estarem presentes nos eventos ligados à cultura negra e concentrarem os orçamentos de apoio em festivais realizados no eixo Rio de Janeiro e São Paulo e não prestarem atenção ao restante do país.

Desta vez, Beyoncé inverteu essa lógica, pousando primeiramente em uma capital negra do Nordeste.

Beyoncé ainda não anunciou os shows de Renaissance no Brasil, que era a notícia mais aguardada pelos fãs brasileiros. Mas a cidade de Salvador já pôde experimentar a sua merecida noite com a atual rainha do pop mundial.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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