Nísia é pressionada a demitir secretária de combate à dengue
Na tentativa de permanecer à frente do Ministério da Saúde, a ministra Nísia Trindade pode acabar dispensando mais um auxiliar.
O próximo alvo do Congresso é a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Leonor Noia Maciel. Ela é responsável por programas que hoje são considerados as maiores dores de cabeça para o governo: combate à dengue e vacina.
O Brasil enfrenta a maior epidemia de dengue de sua história, com reflexos diretos na popularidade do governo. A oposição aproveita para tentar colar em Lula o apelido de "presidengue", palavra disseminada em grupos de WhatsApp, ao mesmo tempo em que o consórcio PT-Centrão pressiona por mudanças na pasta de Nísia Trindade.
A ministra credita a proliferação do Aedes aegypti a "questões climáticas atípicas, como ondas de calor e chuvas frequentes", postou nas redes que já fez 36 reuniões para tratar do tema e nega ter represado recursos, principal acusação à sua pasta.
Desde que assumiu, Nísia tem respondido a crises envolvendo sua pasta com demissões: Nésio Fernandes (secretário de Atenção Primária); Helvécio Magalhães (secretaria de Atenção Especializada); Alexandre Telles (diretor de Gestão Hospitalar) e Andrey Roosewelt Chagas (diretor) caíram.
Sobre as especulações em torno da sua substituição, Ethel disse à coluna que "segue firme. Fazendo um trabalho em prol do Brasil".
Técnica renomada, Ethel é doutora em saúde coletiva/epidemiologia pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), com pós-doutorado em epidemiologia pela Johns Hopkins University. O PT do Espírito Santo concordou com a escolha do nome dela pela ministra.
Ontem (19), Ethel não acompanhou a ministra numa reunião com a Frente Nacional de Prefeitos, que responde pelas cidades com mais de 80 mil habitantes. À coluna, ela afirmou que enviou um técnico para representá-la porque estava analisando dados da redistribuição das vacinas. A ausência foi sentida.
A agenda ocorreu um dia após a reunião ministerial em que o presidente Lula (PT) cobrou eficiência de Nísia publicamente, o que a fez chorar diante dos colegas ministros. Estavam presentes os prefeitos de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), da Frente Nacional dos Prefeitos; de Belém, Edmilson Soares (PSOL); de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB), e de Feira de Santana, Colbert Martins (MDB).
A ministra permaneceu rodeada por seis técnicos e, no relato de prefeitos presentes, passava a palavra a eles sempre que questionada sobre dados da pandemia ou liberação de recursos. Deixou assim a impressão de não dominar profundamente o tema. Em geral, nesses encontros, o ministro conduz a reunião e os técnicos intervêm pontualmente.
Em ano eleitoral, a cobrança de eleitores por vacina e a explosão de casos de dengue caem diretamente no colo dos prefeitos que buscam renovar seus mandatos. O efeito é cascata: o eleitor cobra o prefeito, que cobra o deputado federal, que cobra o presidente, que cobra a ministra, que cobra a secretária.
A ministra ouviu no encontro que, além da vacina da dengue, os municípios também estão quase sem vacinas de varicela e hepatite A. Vacina é o tema de especialidade da ministra, que foi presidente da Fiocruz. Ela teria justificado que, no caso da primeira, a responsabilidade é da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e, no da segunda, atraso da fabricante e se comprometeu a resolver.
Os prefeitos reconhecem o esforço para o diálogo, mas deixaram a reunião com o consenso de que a ministra está fragilizada e que a crise pede alguém mais experiente em gestão na pasta. Após o encontro, Nísia fez um post nas redes sociais no qual diz que "aguarda estudos para avaliar as cidades que receberão novas remessas de vacinas", principal demanda dos prefeitos.
Procurado, o vice-presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Dário Saadi, disse que a "frente não opina sobre substituição ou pefil de ministro e que foi muito bem atendida no Ministério da Saúde."
O que faz a Secretaria de Vigilância em Saúde, segundo o Ministério da Saúde:
"Entre suas ações estão incluídos os programas nacionais de combate à dengue, à malária e outras doenças transmitidas por vetores; o Programa Nacional de Imunização, a prevenção e controle de doenças imunopreveníveis, como o sarampo, o controle de zoonoses; e a vigilância de doenças emergentes."
Deixe seu comentário