Barão de Limeira, 425: ontem, hoje e amanhã
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Pedir licença para entrar pela primeira vez numa casa ainda é um velho hábito cultivado no interior do Nordeste.
"Licença... Muito prazer, eu sou o ..."
É o que faço hoje, pedindo passagem para me apresentar aos leitores, ao iniciar minha colaboração no UOL.
Essa casa já é uma velha conhecida minha.
Alameda Barão de Limeira, 425, Campos Elíseos.
A primeira vez que entrei neste endereço para trabalhar na Folha está fazendo exatos 40 anos. Foi no Carnaval de 1980.
Entrei e saí três vezes, rodei por muitas redações, e já estou na minha quarta temporada como repórter deste jornal.
Agora, além do impresso, estarei também todos os dias aqui no UOL com o meu blog, o Balaio do Kotscho, que em setembro completará 12 anos ininterruptamente no ar.
Tudo faz muito tempo, costumo dizer, mas a vida é um eterno recomeço.
Por coincidência, ou não, dias atrás participei de um debate na cerimônia de entrega do Grande Prêmio UOL
O tema era bem amplo: "Reportagem — Ontem, hoje e amanhã".
Podia falar com conhecimento de causa porque sou um jornalista de ontem (comecei em 1964), ainda estou trabalhando e pretendo continuar amanhã, enquanto tiver espaço para escrever e contar minhas histórias da vida cotidiana.
Mudou o Brasil, mudou o mundo e mudou o jornalismo com o advento da internet, a maior revolução nas comunicações humanas desde Gutenberg, que inaugurou a imprensa uns 500 anos atrás.
Mas não mudou a essência, a natureza do jornalismo, que é muito simples: relatar o que está acontecendo, contar uma novidade, revelar uma tendência, prestar um serviço, criticar o que tem de errado, louvar o que bem merece, e ser sempre fiel aos fatos.
Por mais novas plataformas que surjam, ainda será a boa e velha reportagem que diferenciará um veículo do outro, desde que seja capaz de surpreender e encantar o leitor.
Dá-se a isso hoje o nome genérico de conteúdo. Nenhum robô será capaz de descobrir e contar uma boa e inédita história antes dos concorrentes.
Por isso, o conteúdo dependerá sempre de uma pauta original e um repórter disposto a fazer de cada pauta um novo desafio, como se fosse a primeira matéria da sua vida e, se possível, a melhor.
Quando me perguntam qual foi a melhor reportagem que já fiz nesses meus 55 anos de estrada no jornalismo, sempre digo que é a que estou fazendo.
Num mundo em que todos viraram emissores e receptores de informações e opiniões, haverá sempre espaço para o jornalista profissional que faz do seu ofício uma opção de vida, disposto a correr todos os riscos e ir fundo para descobrir onde está a verdade que os poderosos querem esconder. Não há outra profissão mais apaixonante do que essa.
Certa vez perguntei ao grande cardiologista Adib Jatene no programa "Roda Viva", da TV Cultura, quando ele era ministro da Saúde e ainda fazia cirurgias nos fins de semana, se não tinha medo de morrer do coração, de tanto que trabalhava. Recebi uma resposta que nunca esqueci:
"Meu filho, o trabalho não mata ninguém. O que mata é a raiva. É você não poder fazer o que gosta e ser obrigado a fazer o que não gosta".
Jatene viveu muito e morreu trabalhando no que gostava.
Vida que segue.
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