Carla Araújo

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Reportagem

Guedes lança filme em NY, rebate negacionismo econômico e dá conselhos

Tentando fugir de polêmicas políticas e sem dar entrevistas desde o fim do governo de Jair Bolsonaro, o ex-ministro Paulo Guedes reuniu ontem (14), em Nova York, boa parte de sua equipe do ministério e cerca de 200 convidados para a sessão de lançamento do documentário "O Caminho da Prosperidade".

Guedes evitou críticas diretas ao presidente Lula (PT) e ao ministro Fernando Haddad, mas falou das medidas de ajuda ao Rio Grande do Sul e, depois de certa insistência, aceitou dar um conselho para o atual governo: "Ah, que conselho você daria? Ah, faça o que a gente fazia, que vai dar certo."

"Nós deixamos um protocolo de crise, de como atacar uma crise. Quando as pessoas são atingidas, passamos recursos livres para as pessoas", disse.

O ex-ministro afirmou que, durante a gestão da pandemia, o repasse de recursos foi feito "acreditando no funcionamento da democracia".

É o prefeito que sabe o que é mais importante, a ação local. De Brasília não se sabe o que o prefeito de Canos, por exemplo, vai precisar. É o representante político que sabe.
ex-ministro Paulo Guedes

Derrota eleitoral

Questionado se a derrota de Bolsonaro em 2022 significa a falta de apoio ao projeto econômico liberal, Guedes também não quis fazer críticas ao ex-presidente nem aos conservadores que faziam parte do governo.

"Cada um ajudou o melhor que pôde. Dos que estavam bem intencionados, todo mundo ajudou. Não vou entrar [na polêmica]. Eu espero que a gente consiga fazer o contrário do que foi feito conosco", disse.

Segundo o ex-ministro, o governo Bolsonaro foi uma "aliança" entre liberais e conservadores e "cada um lutou pela sua agenda".

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Claro que houve fogo amigo. Se eu não fui visto em nenhuma passeata a favor de uma causa conservadora, também quando eu estava defendendo uma agenda ou outra não tinha conservador.
Paulo Guedes

Indagado se a agenda do PT, que defende mais Estado e mais gastos e que venceu a eleição, significava o não reconhecimento do eleitor ao que Guedes chama de legado de sua gestão, o ex-ministro afirmou mais uma vez que preferia evitar polêmicas.

"Eu não tenho nada a dizer sobre isso. Eu tenho tantas coisas a dizer, mas não me interessa dizer. Eu não quero ser usado pra discórdia, o país não precisa disso", afirmou.

"Por isso não entendo nada de política", completou.

Guedes disse que durante seu tempo no ministério, sentiu o "peso da parcialidade" e que é preciso "acabar com o maniqueísmo."

"Valeu a pena ficar em Brasília apanhando o tempo inteiro, de covid, da mídia, da oposição, dos ministros fura-teto? Valeu a pena. São 200 milhões de brasileiros que pudemos ajudar", afirmou, sem citar nominalmente o então ministro e hoje senador Rogério Marinho (PL), que durante o governo teve embates públicos com Guedes por conta do teto de gastos.

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"Não gostamos de negacionistas"

Guedes lembrou alguns embates que teve com a classe política, defendeu a democracia e disse que a economia é uma ciência que não pode ser tratada como disputas de futebol.

"Existe o caminho da prosperidade, a ciência. Chamam-se ciências econômicas e elas existem. Não são frouxas como pensam, não. Pensam que a economia é igual futebol, pode-se falar qualquer coisa. Não. Você perde e leva o país à miséria", afirmou.

O ex-ministro usou um termo muito associado a bolsonaristas, mas, tentando tirar a conotação política, afirmou que não gosta de negacionismo.

Temos que acreditar na ciência, nós acreditamos na ciência, nós não gostamos dos negacionistas.
Paulo Guedes

Apesar da alfinetada, Guedes disse que tem respeito pela classe política.

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"Eu não estou na briga, eu entendo, compreendo e respeito a turma que vai para a luta: chamam-se políticos", disse.

O ex-ministro citou a história da China, que se tornou um dos maiores capitalistas apesar de um regime fechado. Disse, ainda, ser a favor da liberdade, mesmo que ela signifique um crescimento menor.

Segundo ele, pode ser que alguém prefira um país crescendo 10%, mas com pessoas monitoradas, sem liberdade, e outros que optem por crescer menos, mas com liberdade.

Eu prefiro ser livre. Eu acredito nisso, é da dignidade humana. Eu já escolhi. Eu sou um liberal democrata, eu gosto das democracias liberais.
Paulo Guedes

Sem citar Bolsonaro e nem os planos golpistas do fim do governo que estão sendo investigados pela Polícia Federal, Guedes afirmou que é certo que "o capitalismo foi o maior vencedor do século 20", e ponderou que as democracias ainda lutam para sobreviver.

"Quem não venceu ainda foram as democracias. Elas estão lutando ainda pela sobrevivência."

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Vontade de voltar?

Questionado sobre como imaginaria um eventual retorno ao poder, Guedes disse que faria "tudo de novo, com mais intensidade" e defendeu as privatizações. Afirmou ainda que retomaria projetos como a capitalização do INSS.

"Certamente voltaríamos no regime de capitalização do INSS", disse.

Ao fim da entrevista, ainda tentando evitar críticas diretas ao governo, Guedes alfinetou a atual gestão questionando os atuais resultados.

Vai olhando o que está acontecendo. Se tiver uma resultado fiscal pandêmico sem pandemia, pensa se está certo ou errado.
Se está fechando a economia ao invés de abrir. Se sai da OCDE em vez de entrar, pensa se está certo ou errado. (...) Cada um que pense por si e Deus que pense por todos.

Paulo Guedes

Paulo Guedes (e) acompanha a estreia do documentário "O Caminho da Prosperidade" ao lado do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas
Paulo Guedes (e) acompanha a estreia do documentário "O Caminho da Prosperidade" ao lado do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas Imagem: Cynthia Simonetta/Divulgação
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Filme foi feito desde o início da gestão

O documentário "O Caminho da Prosperidade" traz uma série de depoimentos de Guedes e de seus subordinados sobre as medidas adotadas pela equipe econômica do governo Bolsonaro e sobre a forma que o ex-ministro tem de pensar sobre a economia brasileira.

O documentário, segundo Guedes, surgiu de uma ideia do cientista político Paulo Moura, que procurou o então ministro, ainda em 2019, para apresentar a ideia de lançar o filme.

"Logo no início do governo, eu tive a ideia e procurei o ministro", disse Paulo Moura, diretor do filme.

"Ele (Paulo Moura) e o Winston Ling falaram assim: nós acreditamos que as democracias liberais e as economias de mercado são um caminho interessante", disse Guedes, também ao lado do empresário liberal, que compareceu ao lançamento do filme.

A estreia aconteceu em Nova York, durante uma semana em que ocorrem diversos eventos brasileiros sobre economia na cidade americana.

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A presença mais marcante foi a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que veio participar de alguns eventos e sentou ao lado do ministro para a sessão de lançamento.

O documentário de uma hora e vinte minutos traz uma série de depoimentos de integrantes da equipe e destaca medidas aprovadas durante o governo da época, como a reforma da previdência.

O filme fala da aprovação do marco de saneamento, medidas adotadas durante a pandemia e outras ações que a equipe de Guedes chama de legado, como a digitalização e uma reforma tributária "silenciosa".

Um trailer no filme foi exibido na times Square no início da semana. Os produtores ainda não sabem quando o filme será exibido no Brasil e estão em negociação com uma plataforma de streaming.

*A jornalista viajou a convite da EMA conteúdo

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