Carla Araújo

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Reportagem

Conselho Federal de Medicina pede para Anvisa banir uso do PMMA no Brasil

O Conselho Federal de Medicina (CFM) vai apresentar hoje à Anvisa um documento pedindo o banimento do polimetilmetacrilato (PMMA) no Brasil. O componente plástico é usado por indústrias na fabricação de lentes, na odontologia, em procedimentos ortopédicos e ganhou espaço na indústria estética para preenchimento da pele, visando aumentar o volume de glúteos, coxas, rosto e outras partes do corpo.

O documento do CFM vai relatar a preocupação com o aumento do número de casos de complicações pelo uso do produto, especialmente por não médicos.

O pedido será levado por representantes do CFM à Anvisa em uma reunião marcada para a tarde desta terça-feira (21), em Brasília.

Foco nos procedimentos estéticos

No documento entrega à Anvisa, o CFM defende a proibição do uso de PMMA como preenchedor cosmético no Brasil, devido aos graves riscos associados à substância. Complicações como granulomas, inflamações crônicas, hipercalcemia e insuficiência renal estão entre os problemas relatados. Essas reações podem surgir logo após a aplicação ou até mesmo anos depois, frequentemente exigindo cirurgias complexas que resultam em danos permanentes e desfigurantes para os pacientes.

Os granulomas, por exemplo, são formações inflamatórias duras e dolorosas que podem ocorrer em qualquer momento após a aplicação. Essas reações tornam-se especialmente problemáticas porque o material se fixa irreversivelmente nos tecidos saudáveis, dificultando ou impossibilitando sua remoção sem causar lesões extensas.

Além disso, a aplicação em grandes volumes está associada a complicações sistêmicas severas, como a hipercalcemia, que pode evoluir para insuficiência renal e, em casos extremos, ser fatal. Há relatos no Brasil de pacientes que desenvolveram essas condições anos após o procedimento, principalmente quando submetidos a preenchimentos estéticos de grande escala, como aumento de nádegas.

Sociedades médicas, como a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), condenam o uso de PMMA para fins estéticos. Desde 2006, a SBCP alerta sobre os riscos graves e irreversíveis, incluindo morte, quando o produto é utilizado de maneira inadequada. A SBD também desaconselha seu uso geral, apesar de reconhecer sua aplicação restrita em casos específicos, como o tratamento de lipodistrofia em pacientes com HIV/Aids.

O CFM reforça que, embora o PMMA seja ocasionalmente empregado em pequenas doses para fins reparadores, como na lipodistrofia, há alternativas mais seguras e modernas disponíveis.

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Diante disso, as entidades médicas mantêm a posição: o uso de PMMA para fins estéticos deve ser evitado. Elas defendem regulamentações mais rígidas e a proibição da produção e comercialização do produto no Brasil, a fim de proteger pacientes dos riscos graves e irreversíveis associados à substância.

O uso do PMMA no Brasil é autorizado pela Anvisa, mas apenas em duas situações:

  • Correção de lipodistrofia (alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo) provocada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids);
  • Correção volumétrica facial e corporal, que é uma forma de tratar alterações, como irregularidades e depressões no corpo, como em casos de poliomielite, fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.

Casos com repercussão

Casos com complicações pelo uso do PMMA têm ganhado repercussão. Recentemente, a influenciadora Erika Alk, 49, revelou que enfrentou problemas com olheiras profundas tratadas com PMMA, resultando em complicações que levaram a deformações nos olhos e múltiplas cirurgias.

A aplicação de PMMA causou infecção e úlcera ocular em Erika, que precisou de enxertos para corrigir a pálpebra caída; a recuperação envolveu manter os olhos fechados por um período.

"Fiz a cirurgia em outubro. Quando passou a anestesia eu ainda estava muito inchada, não tinha como saber. Passados uns dias, ficou visível que, em vez de melhorar, piorou. Tive uma infecção devido ao PMMA e a minha pálpebra inferior caiu. Meu olho não fechava mais", contou a influenciadora.

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