Silvio Santos foi vítima de 'conspiração' na eleição de 1989, diz vice
Em novembro de 1989, ao anunciar sua candidatura à Presidência da República, o empresário Silvio Santos foi vítima de uma "conspiração implacável" para que não conseguisse disputar o cargo, segundo o candidato a vice do apresentador, o ex-senador Marcondes Gadelha. Ele diz que três nomes teriam comandado essa oposição:
No outro dia, quando vazou a candidatura, já tinha se formado uma conspiração implacável. Essa conspiração era formada por Roberto Marinho, Antônio Carlos Magalhães e João Leitão de Abreu [chefe do Gabinete Civil do presidente João Figueiredo].
Os três citados já são falecidos.
Marcondes é autor do livro "Sonho Sequestrado", em que conta sua versão sobre o que teria levado Silvio a ter a candidatura barrada.
Em conversa com o UOL nesta segunda-feira (19), Marcondes afirma que "só Deus sabe" como ele foi parar na chapa de vice do comunicador. "Foram apresentados vários nomes, e ele de bate-pronto disse: 'Marcondes!' Não ia perguntar por que, só aceitei", conta.
Tentativa de candidatura barrada
Silvio Santos era filiado ao PFL, lembra Marcondes, e o candidato do partido à Presidência, Aureliano Chaves, decidiu renunciar à disputa por não conseguir chegar a 3% de intenções de voto. "Ele estava perdendo para Collor no estado de Minas Gerais, e decidiu renunciar faltando 15 dias para a eleição. E não adiantava trocar por um candidato de mesmo estilo."
Existia um populismo na época, de direita e de esquerda, com Collor e Lula. Não tinha para mais ninguém. Tinha que ser alguém com popularidade fora do comum, e só tinha um nome: Silvio Santos, que pertencia ao PFL.
Acontece, diz, que a "conspiração" conseguiu convencer Aureliano a manter a candidatura e assim não abrir espaço para Silvio.
Havia uma conspiração dividida em três tempos: primeiro era impedir que Silvio tivesse a nossa legenda (PFL); segundo era impedir que ele conseguisse outra legenda; e o final seria impedir na Justiça.
Luta por legenda
A partir da negativa do PFL, ele disse que foi "uma luta" para achar outra legenda "Conseguimos então, milagrosamente, o PMB. O entendimento foi feito na madrugada."
O pedido de registro da candidatura foi feito em 4 de novembro, 11 dias antes da votação do primeiro turno. "Aí esse pessoal da conspiração começou um trabalho para dar um resultado adverso no TSE: jogaram juristas e jornalistas na imprensa; eram editorias de todo tipo", afirma.
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Quero receberO primeiro argumento usado foi que Silvio ainda seria presidente do SBT, o que Marcondes diz ter sido negado à época. "Ele não era responsável legal, era o acionista majoritário. Não havia nada na legislação que impedisse".
Depois de essa acusação não vingar, foi colocada em prática outra ideia, sugestão de Eduardo Cunha, aquele mesmo hoje ex-presidente da Câmara, que era ligado a Collor.
Ele saiu rodando o país todo para mostrar que o PMB não tinha realizado convenções em 9 estados, e com base nisso conseguiram. Foi uma participação do tribunal extremamente questionável.
Ele diz que o julgamento no TSE, que vetou a candidatura de Silvio por 7 votos a 0, feriu o devido processo legal. "Não estava em questão, na ação, o que o partido fez ou não: eles atropelaram o processo e votaram incidentalmente sobre uma questão, que era o impedimento do Silvio Santos, apenas."
Silvio não quis recorrer ao Supremo. "Todo mundo ficou muito frustrado, e eu com a sensação de que perdemos um grande governo", diz.
Depois disso, Silvio ainda tentou disputar a Prefeitura de São Paulo em 1992, mas, após ser novamente barrado pela Justiça Eleitoral, acabou desistindo. "Ele disse: 'Política, nunca mais'."
E como seria o governo Silvio Santos?
Marcondes conta que chegou a discutir com Silvio Santos um plano de eventual governo. À época, lembra, a inflação chegava a 90% ao mês. "Ninguém queria mais trabalhar. Quem tinha alguma coisa preferia investir. E, sem produção de bens e serviços, o país não ia sair do buraco nunca", lembra.
Segundo ele, as ideias de Silvio se baseavam em três pilares: zerar o déficit habitacional do país, criar um programa de renda mínima e reduzir o "peso do Estado".
Ele ia dar milhões de casas de graça para o povo, e isso geraria um mercado de trabalho articulado com outros setores da produção. Ele acreditava que isso teria uma dinâmica econômica.
Sobre a renda mínima, ele explica que a ideia seria fazer algo parecido com o que é o Bolsa Família hoje. Ele disse que a ideia veio por meio do ex-senador Eduardo Suplicy (SP), que à época era vereador de São Paulo. "Mas isso nunca tinha tido repercussão, Sílvio foi o primeiro a propor."
Ele iria colocar dinheiro na mão do povo, que puxaria o consumo, que puxava a produção. Na época, o país só tinha em torno de 50 milhões de pessoas consumidoras, e Silvio queria ampliar isso. Ele era muito ligado ao povo pobre.
Não estava claro como a redução do Estado seria feita. "Mas haveria reversão da sociedade com o Estado, dando prevalência à sociedade, criando mais oportunidade para que os segmentos pudessem prosperar", conclui.
O Silvio era um excelente administrador, ele tinha 33 empresas à época, todas davam lucro. Ele não era o homem mais rico do país, mas era o maior pagador de impostos —o que mostra que tudo foi feito com lisura e transparência.
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