Carlos Madeiro

Carlos Madeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Renegado por João Paulo 2º, papódromo erguido por Collor definha em Maceió

Erguido em 1991 por cerca de R$ 57 milhões (em valores atualizados), o papódromo de Maceió sofre os efeitos da falta de manutenção, que já o fez perder parte da estrutura metálica. O local foi idealizado para receber o papa João Paulo 2º na visita de 19 de outubro de 1991, única vez que um pontífice esteve em Alagoas.

A obra foi feita por ordem do então presidente Fernando Collor, que escolheu o local: ao lado do conjunto habitacional Virgem dos Pobres, uma das marcas da sua gestão no governo do estado (1987 a 1989).

Desde 2015, o local está sob administração da Arquidiocese de Maceió, passou a se chamar Santuário da Divina Misericórdia e recebe alguns eventos. Apesar do uso da área pela Igreja, a estrutura erguida há 34 anos seguiu deixada de lado e hoje acumula marcas do tempo (veja mais fotos abaixo).

Sem manutenção, a estrutura metálica que cobria o palco —e era a marca visual do projeto— precisou ser retirada. "Partes dela começaram a cair, e para evitar cair isso em cima de alguma criança ou adulto, removemos. Mas temos a intenção de colocar uma outra", diz o padre Márcio Roberto, que responde pelo local na arquidiocese.

31.jan.2013 - estrutura metálica de cima do papódromo fotografada há 12 anos: parte foi demolida por falta de manutenção
31.jan.2013 - estrutura metálica de cima do papódromo fotografada há 12 anos: parte foi demolida por falta de manutenção Imagem: Beto Macário/UOL

O UOL esteve no papódromo na manhã desta quarta-feira e viu como ele está com estrutura definhando. Ao lado do palco, dezenas de sacos e objetos de lixo descartados no local reforçam o cenário de abandono. O cenário é parecido com o visto —e também contado aqui no UOL— em 2013.

No local estavam apenas homens que montavam a estrutura provisória para realização da festa da misericórdia, evento da arquidiocese marcado para o próximo domingo.

Segundo o padre Márcio Roberto, como a área escolhida para erguer o papódromo fica entre o mar e a lagoa Mundaú, a maresia acelerou o processo de corrosão. "Ultimamente ele está feio, mas buscamos sempre revitalizar", diz.

"Esse monumento foi criado às pressas, pois Maceió não estava na rota da passagem do papa no Brasil; mas como o presidente era Fernando Collor, ocorreu de acrescentarem uma passagem rápida por Alagoas. Na época, a estrutura foi causa de polêmica devido o alto valor", lembra.

Continua após a publicidade
Papa celebra missa em estrutura ao lado do papódromo
Papa celebra missa em estrutura ao lado do papódromo Imagem: Reprodução/Facebook Maceió Antiga

O padre cita uma curiosidade quase que desconhecida do grande público: "João Paulo 2º, quando soube do valor absurdo, não quis subir no monumento. Para evitar a polêmica, foi pedido para que se fizesse uma estrutura lateral, que foi onde ele ficou. Ele não quis ficar propriamente no monumento", diz.

Comissão para revitalização

Para cuidar do local, a arquidiocese criou uma comissão formada por quatro padres que tenta há três anos revitalizar o monumento. Nesse período, houve reuniões com governo do estado e Prefeitura de Maceió, mas sem sucesso para emplacar a ideia de projeto para o local.

A arquidiocese tem um projeto de revitalização do espaço, que vai além de redesenhar o local, mas dentro de uma manutenção mais econômica e ecológica. A gente pretende criar dois complexos de ações pastorais da igreja para atender os braços da caridade e cultural da Igreja.
Padre Márcio

Vista aérea do papódromo antes da sua inauguração
Vista aérea do papódromo antes da sua inauguração Imagem: Arquidiocese de Maceió
Continua após a publicidade

Ele explica que a ideia seria ter um galpão onde as pastorais sociais pudessem agir e interagir com os moradores de baixa renda. No local, diz, pode ser feito um ambiente para os artesãos locais venderem seus produtos.

"Na nossa mente existe a ideia da criação de um restaurante popular, de creche e salas para promoção de cursos gratuitos em parceria com empresas privadas e públicas. O braço cultural seria com salas de ensaio de folclore locais. Tudo isso é a ideia, estamos aguardando os retornos das negociações", explica.

O padre afirma que ainda não há um valor definido para essa requalificação do local. "Entregamos a um arquiteto para ele fazer o projeto e sentar com o engenheiro. Assim vamos ter uma ideia de quanto seria gasto".

É de interesse da arquidiocese não deixar aquele espaço histórico e sagrado ficar abandonado. Temos a preocupação de que um investimento neste espaço seja interpretado como um favorecimento à fé católica, mas não podemos esquecer que neste estado e nesta cidade pisou um chefe de Estado, o do Vaticano, que foi considerado umas das grandes personalidades do milênio.
Padre Márcio

João Paulo 2º no papamóvel pelas ruas de Maceió
João Paulo 2º no papamóvel pelas ruas de Maceió Imagem: Acervo José Ronaldo/Governo de Alagoas

A coluna procurou o governo do estado, que afirmou que, por não ter responsabilidade sobre a área, não tem projetos específicos para o local.

Continua após a publicidade

A Prefeitura de Maceió também foi procurada para falar sobre eventuais projetos e sobre o recolhimento do lixo no local, mas não se pronunciou.

Veja mais fotos do local atualmente:

Trabalhadores montam estrutura em meio ao papódromo abandonado
Trabalhadores montam estrutura em meio ao papódromo abandonado Imagem: Carlos Madeiro/UOL
Placa do conjunto erguido por Collor quando governador, com o papódromo ao fundo
Placa do conjunto erguido por Collor quando governador, com o papódromo ao fundo Imagem: Carlos Madeiro/UOL
Vista do palco principal do papódromo, em Maceió
Vista do palco principal do papódromo, em Maceió Imagem: Carlos Madeiro/UOL
Área no entorno do papódromo tem calçada quebrada
Área no entorno do papódromo tem calçada quebrada Imagem: Carlos Madeiro/UOL
Continua após a publicidade
Imagem coberta por árvore da Virgem dos Pobres, no bairro da Levada, ao lado do papódromo de Maceió
Imagem coberta por árvore da Virgem dos Pobres, no bairro da Levada, ao lado do papódromo de Maceió Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

7 comentários

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Mauricio Nunes da Silva

Quanto dinheiro público jogado fora  e roubado  Infelizmente Brasil é o país da corrupção.

Denunciar

Samuel Vieira Pinho

Uma pena que vai ficar só um ano e quatro meses (ou nem isso) preso... Esse merecia prisão perpetua... 

Denunciar

Luiz Rufino Marciano

caramba tenho um amigo que se chama João e ele é um pedreiro do bons, faria isso por 25.000,00 e ficaria dá hora

Denunciar