Prefeito de Teresina reclama dos 2%: 'Coisa estranha, votos não apareceram'
O prefeito de Teresina, Dr. Pessoa (PRD), teve o menor percentual de votação de um prefeito que buscava a reeleição da história das capitais brasileiras. Ele também foi o primeiro prefeito a não conseguir se reeleger em Teresina.
Na votação deste domingo, Dr. Pessoa teve apenas 10.131 votos, ou 2,2% do total válido. No segundo turno de 2020, quando foi eleito pelo MDB, ele teve 236.339 votos (62,31% do total válido). Agora, esse número caiu 95%.
Eu não estou chateado; agora, coisa estranha, houve. Eu fazia diversas reuniões, era abraçado, uma coisa fantástica, e os votos não apareceram. Na minha concepção [o resultado] não foi bom; mas tenho gratidão.
Dr. Pessoa, em coletiva nesta segunda-feira
A eleição na capital piauiense foi vencida, já em primeiro turno, por Sílvio Mendes (União Brasil), que teve 239.848 votos (52,19% do total válido). O petista Fábio Novo, que liderava as pesquisas, teve 198.794 dos votos (43,26%).
A reeleição foi aprovada no Brasil, em 1997, e nas eleições municipais passou a vale a partir de 2000 . Desde então, a menor votação tinha sido do prefeito João Alves (DEM), de Aracaju, que em 2016 também caiu no primeiro turno com 9,9% dos votos válidos.
Prefeitos com menor votação em tentativas de reeleição:
- 2020 - Marchezan Jr. (PSDB), em Porto Alegre- 21,07%
- 2016 - João Alves (DEM), em Aracaju (SE) - 9,99%
- 2012 - Luciano Ducci (PSB), em Curitiba - 26,77%
- 2008 - Serafim Correia (PSB), em Manaus - 42,87% (2º turno)
- 2004 - Nilmar Ruiz (PL), em Palmas - 32,67%
- 2000 - Anibal Barcelos (PFL), em Macapá - 13,17%
Sem aliados
A reeleição de Dr. Pessoa já era descartada por analistas de Teresina antes mesmo do início da campanha por conta da alta rejeição ao prefeito. Isso o deixou sem apoios políticos relevantes.
Em janeiro, o deputado estadual e aliado de primeira linha em 2020 Jeová Alencar (Republicanos) pediu exoneração do cargo de superintendente da SAAD (Superintendência das Ações Administrativas Descentralizadas) Sul.
Ele fez uma carta de renúncia atirando contra o prefeito. "A partir do momento em que passo a discordar da gestão, não faz sentido continuar nela", disse, citando: "Coloco meu nome para julgamento da população".
Jeová não cacifou uma candidatura, mas é vice do prefeito eleito Silvio Mendes.
Já o vice-prefeito Robert Rios (MDB) também rompeu com Dr. Pessoa. "É um homem de bem, decente, simples, humilde, quer trabalhar por Teresina. Mas tem amigos e parentes dele que estão conduzindo a prefeitura a um lugar que não concordo", disse, em áudio de janeiro.
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Quero receberEm maio, se disse "traumatizado" com a política e anunciou que não seria candidato nas eleições de 2024.
Ataques e memes
Em conversas com a coluna, pessoas próximas asseguram os ataques que sofreu foram determinantes para minar sua reputação. Dr. Pessoa foi alvo de criticas especialmente por causa da idade — ele tem 78 anos—, e teve situação comparada em Teresina com a situação do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de 81 anos, que renunciou em nome da candidatura de sua vice, Kamala Harris.
Dr. Pessoa também foi alvo de fake news, como a de que a gravidez de sua esposa seria fruto de uma relação extraconjugal. O boato surgiu em uma página de fofoca do Instagram de grande audiência na cidade.
Os ataques, dizem aliados, ocorreram em regra por "fogo amigo" e partiram de dentro da prefeitura.
Em coletiva nesta segunda-feira, ele comentou que o seu mandato teve problemas com o "blocão" de oposição, que teria o impedido de pegar R$ 140 milhões para obras. Além disso, citou que teve problemas de comunicação no mandato e na campanha.
A nossa área da comunicação não foi ruim, foi péssima. Além disso, comecei com um time na administração e não sei se metade ou menos da metade desse time valia a pena. Fui melhorando pouco a pouco, mas não deu, porque tinha muita peça estragada. Além disso, a nossa comunicação na campanha não foi eficiente.
Dr. Pessoa
Segundo o cientista político Vitor Sandes, da UFPI (Universidade Federal do Piauí), a avaliação do prefeito é negativa especialmente porque a gestão teve problemas em duas áreas: transporte público e saúde.
Há um grande problema na área de transporte público, especificamente na circulação e acesso a ônibus pela população. Este foi um problema que estourou logo no início da gestão e não foi resolvido até hoje. Tem afetado a mobilidade urbana da população teresinense.
Vitor Sandes
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