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Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula cogita mudar critério de escolha do PGR para evitar 'inferno'

Colunista do UOL

27/07/2022 15h41Atualizada em 27/07/2022 19h23

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Nos oito anos que esteve no poder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu para procurador-geral da República um dos nomes que a categoria votava em lista tríplice. Sua sucessora, Dilma Rousseff, fez o mesmo nos seis anos que ocupou o Palácio do Planalto. Foi uma forma de prestigiar o Ministério Público que, na prática, resultou em revés para ambos.

Na entrevista que concedeu nesta quarta-feira ao UOL, Lula deu sinais de que pode mudar de ideia se for eleito presidente em outubro. Desde o ano passado, assessores próximos do petista defendem que ele descarte a lista tríplice e passe a indicar para a PGR (Procuradoria-Geral da República) um nome de confiança do partido. Lula era refratário à ideia. Agora parece que está repensando o assunto.

Diante da pergunta da colunista do UOL Carla Araújo sobre critério para nomeação do procurador-geral, Lula disse, em tom de brincadeira: "Você tem que deixar um pouquinho de suspense, se não fica um governo muito previsível". Afirmou, ainda, que o Ministério Público pode transformar em "inferno" a vida de quem for acusado injustamente. Por fim, concluiu: "Eu vou pensar em como é que eu vou escolher essa gente".

Ao longo dos últimos anos, Lula entendeu que escolher um dos nomes da lista tríplice para a PGR pode significar dor de cabeça para o governante. Ao menos foi assim para ele e para Dilma.

O primeiro procurador-geral que Lula escolheu foi Cláudio Fonteles. Apesar de não ter sido autor de nenhuma denúncia retumbante, Fonteles rompeu a inação de seu antecessor, Geraldo Brindeiro, que se notabilizou como o "engavetador-geral da República" de Fernando Henrique Cardoso.

A paz terminou quando Antonio Fernando de Souza chegou à PGR. Foi dele a denúncia do mensalão, o esquema de pagamento de propina a parlamentares por parte do governo Lula. A ação penal instaurada no STF (Supremo Tribunal Federal) culminou em 2012 na condenação de petistas próximos do presidente, como o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu.

Depois de Antonio Fernando, a cadeira principal da PGR foi ocupada por Roberto Gurgel, que endossou as denúncias do mensalão durante o julgamento no STF. Rodrigo Janot foi o último procurador-geral dos governos petistas. Fez dezenas de denúncias da Lava Jato no STF. Entre os alvos de Janot estava a cúpula do PT.

Lula foi em abril de 2018 por ordem da Lava Jato. A mágoa que guarda do Ministério Público foi verbalizada mais uma vez na entrevista de hoje. "Toda vez que eu fui na posse de um procurador eu dizia: "Gente, vocês têm uma função muito importante, por isso vocês têm que ter mais responsabilidade. Vocês não podem brincar com as pessoas. Vocês não podem fazer acusação falsa. Para vocês acusarem, vocês precisam saber se é verdade. Vocês não sabem o inferno que vocês fazem quando fazem uma denúncia leviana. E no meu caso foi leviandade", disse.

Na entrevista, Lula fez várias críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Mas, no fundo, deve ter inveja do procurador-geral que o mandatário escolheu. Augusto Aras tem se mostrado aliado importante do governo. A última prova de fidelidade foi dada na segunda-feira, quando pediu para o STF arquivar 7 das 10 investigações abertas contra Bolsonaro e aliados a partir da CPI da Covid-19.