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Carolina Brígido

REPORTAGEM

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'Não vai ter golpe', diz Aras sobre eleições de outubro

O procurador-geral da República, Augusto Aras -  Reprodução / TSE .
O procurador-geral da República, Augusto Aras Imagem: Reprodução / TSE .

Colunista do UOL

17/08/2022 18h30Atualizada em 17/08/2022 19h04

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O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse nesta quarta-feira (17) à coluna que existe "zero risco" de um candidato derrotado nas urnas nas eleições de outubro não aceitar o resultado. "Não vai ter golpe", declarou.

Segundo Aras, não passa de retórica o discurso do presidente Jair Bolsonaro de que o sistema eleitoral brasileiro não é confiável e, por isso, o resultado das eleições pode ser fraudado. "É a retórica. Eu sou o primeiro procurador-geral da República que vem falar sobre linguística. O ato de comprar uma faca ou um revólver e dizer "eu vou matar Joãozinho amanhã" não é crime. As meras lucubrações, ainda que se manifeste para o seu vizinho, não corresponde a nenhum crime", declarou.

Questionado se as falas reiteradas de Bolsonaro o preocupam, Aras respondeu: "Não, nem me passa pela cabeça". Segundo Aras, não vai ter golpe porque "as instituições brasileiras estão todas trabalhando para que as eleições se realizem em clima de normalidade".

Aras disse, ainda, que a cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), realizada na terça-feira (16), foi normal. "Enquanto a imprensa pode extrair dos discursos agressão e violência, o velho professor aqui não vê nada de mais. É do jogo da política aquilo. A linguagem especulativa de vocês (imprensa) tem limite", afirmou.

O procurador-geral minimizou o fato de Bolsonaro não ter aplaudido Moraes quando o ministro defendeu a urna eletrônica. Para Aras, os aplausos a Alexandre de Moraes podem ter muitos significados e podem ser ouvidos como "estamos com você e queremos paz". Aras avaliou o evento como "um abraço do Brasil".

Na conversa com a coluna, o procurador-geral reclamou das críticas que vem recebendo desde que assumiu o comando do Ministério Público Federal. "Eu me sinto incompreendido, mas sei que essa compreensão virá na história. Se fará justiça a mim. Eu sempre fui considerado um bom procurador. Eu só virei ruim quando virei procurador-geral da República. Minhas turmas na faculdade eram cheias", disse Aras, lembrando-se das aulas ministradas na UnB (Universidade de Brasília).

Para o procurador-geral, ele passou a ser atacado por ser combativo contra irregularidades do Ministério Público e abusos da Lava Jato. Ele foi escolhido por Bolsonaro para ocupar o cargo mesmo sem compor a lista tríplice votada pela categoria na época. "O divino quis que eu entrasse aqui. Não me submeti a nenhum esquema".

Aras disse que, entre seus feitos, foram estabelecidas multas altas para acordos de delação premiada. Segundo ele, antes as cifras eram "ridículas". Além disso, trabalhou para a cassação de dois governadores - Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, e Mauro Carlesse, de Tocantins. Ainda em sua gestão, foram abertas investigações contra 400 pessoas com prerrogativa de foro no STF (Supremo Tribunal Federal) e no STJ (Superior Tribunal de Justiça). A conta inclui oito inquéritos contra Bolsonaro no STF.

O mandato de Aras termina em setembro de 2023. Ou seja, se Luiz Inácio Lula da Silva vencer as eleições, como indicam as pesquisas de intenção de votos, ele continuará no cargo. Ao longo dos últimos três anos, o procurador-geral tem sido apontado como aliado de Bolsonaro. Questionado sobre se mudará de atitude diante de eventual novo cenário político, Aras disse que vai ser "igual". E completou: "sou coerente".

Aras disse que não tem interesse em ser reconduzido para a PGR (Procuradoria-Geral da República), mesmo que seja indicado. Segundo ele, em 2023 ele vai se aposentar inclusive como professor da UnB e vai escrever sobre sua experiência no cargo de procurador-geral da República. "Existe vida inteligente lá fora", declarou.