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Chico Alves

PSL vai deixar de passar vergonha, diz Joice, nova líder do partido

Joice Hasselmann dá depoimento à CPMI das Fake News - WAGNER PIRES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Joice Hasselmann dá depoimento à CPMI das Fake News Imagem: WAGNER PIRES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

11/12/2019 20h17

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Depois da suspensão de 18 deputados bolsonaristas, finalmente o PSL conseguiu oficializar na tarde de ontem a mudança na liderança do partido na Câmara: sai Eduardo Bolsonaro, entra Joice Hasselmann. Pouco tempo depois, porém, a 4ª Vara Cível de Brasília cancelou a punição, sob alegação de que faltou divulgação dos editais de convocação. "A gente vai cassar isso aí, é coisa que em 24 horas a gente resolve", afirmou a deputada, nessa entrevista à coluna. "Dá a entender que tem uma força do Poder Executivo em cima dessa decisão do juiz".

Joice não teve meias palavras para definir a diferença entre os seus planos para a liderança do PSL e o período do seu antecessor, Eduardo Bolsonaro: "Primeiro, a gente vai deixar de passar vergonha", resumiu. Ela acusou o filho do presidente de abandonar a legenda e sair em viagem pelo mundo com dinheiro público.

Sobre o outro filho do presidente, Carlos, que voltou às redes sociais com menções agressivas e ofensivas, ela disse que vai acioná-lo na Justiça e o classificou de "babaca". "Estranho que tenha sumido por algum tempo, e que, como divulgou a imprensa, tenha se desfeito do computador. A sensação que dá é que ele deu esse tempo para limpar algumas provas e agora voltou".

Joice não liga para o fato de Jair Bolsonaro ter dito nessa tarde que o PSL tem vários "traíras", porque, segundo diz, não leva muito a sério essas estocadas. "Sabe quando vira piada, quando vira chacota esse tipo de declaração?" O que a deputada leva a sério é o movimento feito para jogar o povo contra o Parlamento. Diz que algumas vezes Bolsonaro mandou ao Legislativo projetos que depois pedia aos parlamentares para serem vetados, para não assumir o ônus junto ao eleitor:

Nessa entrevista, Joice Hasselmann dá a entender que tem ainda mais munição contra as chamadas milícias digitais, que poderá apresentar em um eventual depoimento sigiloso:

UOL - O que a decisão da 4ª Vara Cível de Brasília, que cancelou a punição a 18 deputados bolsonaristas, muda nos seus planos de assumir a liderança do PSL?

Joice Hasselmann - Não mudou nada. Essa é uma decisão daquelas bem esquisitonas. Ou o juiz está muito mal informado ou está pressionado ou está de má-fé, não tem outra justificativa. Existe um estatuto e as matérias partidárias são interna corporis (de resolução interna).

O juiz substituto interferiu, passou por cima do juiz prevento (o primeiro a abordar o caso), botou um desembargador aposentado no meio da história, que foi lá fazer o despacho. O processo chegou às 12h53 e às 15h estava assinado... Não deu nem tempo de ler o processo.

A alegação é mais surreal ainda. Os advogados com quem eu falei estão surpresos, porque a alegação do juiz é que os infratores não foram notificados. Veja só: eles não só foram notificados por via tradicional, como por cartório, por edital e até por WhatsApp. A coisa mais maluca é que o advogado que defende as partes notificadas esteve em todas as sessões. Se eventualmente alguém não tiver sido notificado, o que não aconteceu, isso teria sido sanado porque o advogado acompanhou tudo. É uma loucura.

Dá a entender que tem uma força do Poder Executivo em cima dessa decisão do juiz, com certeza. Mas a gente vai cassar isso aí, é coisa que em 24 horas a gente cassa, não muda absolutamente nada.

Qual vai ser a diferença da sua liderança para a liderança de Eduardo Bolsonaro, seu antecessor?

Primeiro, a gente vai deixar de passar vergonha. Com o líder anterior, o Eduardo, a gente estava passando vergonha todos os dias. Não tinha nenhuma orientação, nenhuma conversa prévia com os deputados. Ele nem fica no Brasil, fica gastando dinheiro público viajando pra tudo o que é canto.

Nos últimos dias foi para Dubai, Israel, Omã, um monte de lugares, pra cima e pra baixo, e o partido está completamente abandonado. Então, a primeira medida é que o PSL como grupo para de passar vergonha e age de fato como partido de uma direita racional. Que é o que nós somos. Não somos xiitas, nacionalistas e reacionários. Nós somos liberais na economia e conservadores nos costumes. Foi isso que nós prometemos para o nosso eleitor.

O que a gente viu é que parte do pacote que nós prometemos veio com problema, parte do pacote não era bem isso. Então, a partir de agora nós vamos entregar o que nós prometemos.

Eu tenho um jeito firme de conduzir as coisas, todo mundo sabe, mas não vai haver perseguições, nada disso. Mas não vou deixar gente com problema emocional, com bipolaridade ou sai lá o quê comandando comissões importantes, porque disso depende o futuro do Brasil. Não podemos deixar gente que decide só por ideologia e sem raciocínio lógico tomando decisões no maior partido da Câmara.

Quais são as suas prioridades como líder do PSL na Câmara?

Prioridade é desenhar junto com o grupo essa linha liberal, de direita racional. Abrir as portas para que aqueles que eventualmente acabaram tendo uma rusga com o partido possam voltar, sem nenhum tipo de perseguição. Claro que tem gente que o melhor é que saia do partido, e acabou. Mas acredito que muitos foram pressionados a estarem do lado de lá.

Queremos trazer de volta, trabalhar essa composição, votar as pautas que são importantes para o Brasil. E o PSL passa a ser um partido independente, vai votar com o governo quando a matéria for boa para o Brasil. Quando não for boa para o Brasil a gente não vai votar. A missão é colocar na prática aquilo que prometemos em campanha, essa a missão da minha liderança.

Não acha que vai ser uma convivência complicada entre o seu grupo e o dos bolsonaristas?

Hoje marcamos uma reunião e apareceram meia dúzia do grupo de lá. Vieram, almoçaram conosco, conversamos... Enfim, aqueles que sabem conversar, dialogar, que sabem pensar, que estão imbuídos do espírito democrático, esses podemos conversar naturalmente. Com aqueles que têm no sangue o autoritarismo, não tem conversa. Não há diálogo no autoritarismo. Mas com a grande maioria é possível costurar esse diálogo.

Carlos Bolsonaro voltou às redes e postou no Twitter: "Gabinete do ódio é a orelha da mãe de quem acusa!". Publicou também imagens de três porquinhas. Como a sra. reage a isso?

Então ele vai responder na Justiça, vou meter a Justiça em cima dele. Me parece muito estranho que tenha sumido por algum tempo, que, como divulgou a imprensa, tenha se desfeito do computador. A sensação que dá é que ele deu esse tempo para limpar algumas provas e agora voltou.
Mas eu não me intimido com esse tipo de gente. Moleque malcriado para mim eu dou dois pitos, castigo e pronto. É assim que a gente tem que tratar esses meninos. Ele é infantil, babaca, machista. Há vários adjetivos para descrever.

Mas na CPI das Fake News eu apresentei não só esse tipo de babaquice de um moleque que não tem limites, que não conhece a lei e a Justiça, mas apresentei uma organização criminosa, que age em conjunto, usando dinheiro público, para destruir reputações. Inclusive inventando informações, como no caso de um meme do Rodrigo Maia dizendo "Urgente! Rodrigo Maia acaba de ser preso depois de um assalto a banco". É muito mais grave que esse material de extremo mau gosto.

Acredita que vai-se chegar à punição dos grupos que a sra. chama de milícias digitais?

Vai chegar de uma forma ou de outra. Ou chega via CPI ou chega via Supremo. Até porque eu levei algumas informações, mas posso também depor em sigilo. Tem coisas que eu não quis expor. Eu quero frear essa bandidagem virtual e isso vai acontecer. Material para isso não me falta.

O presidente disse hoje que o PSL tem muito "traíra". O que acha dessa afirmação?

Vamos perdoar o presidente, às vezes ele não sabe o que diz. Perdoai. Eu respeito muito o presidente, mas isso é natural do bolsonarês. Ele sempre fala uma bobagem ou outra, o que gerou muitas crises aqui no Legislativo, eu tive que apagar muito incêndio. Então, a gente nem leva muito a sério. Sabe quando vira piada, quando vira chacota esse tipo de declaração? Toda semana tem uma.

Por esse tipo de comportamento até meio bipolar é que a gente chegou nessa situação, com a participação direta do presidente e dos filhos. Eles conseguiram dividir o único partido que era 100% da base. Onde o presidente e os filhos querem chegar com isso? Na anarquia completa?

Há uma clara tentativa de jogar o Parlamento contra o povo, o povo contra o Parlamento. É uma coisa muito clara. Matérias são aprovadas com o apoio do governo, voltam para o Palácio e o presidente veta. Mas veta e acerta com os líderes dele para pedirem a derrubada do próprio veto. Para que o Legislativo se desgaste, mas ele não. Isso não é uma coisa muito bonita de se fazer. Fazer o joguinho de "engana" com o povo brasileiro não é uma coisa muito respeitável.

O que falta melhorar no governo, na sua opinião?

Tem que consertar muitas coisas. O que está funcionando é a parte do Paulo Guedes e a do Moro. Ainda tem problemas dentro do governo. Falta aprender a relação de política adulta. Política republicana madura é o primeiro passo que o governo tem que aprender e isso se aprende através do líder. O grande líder é o presidente da República, então ele tem que avançar em direção a isso.