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Chico Alves

Irmã de Marielle a desembargadora: "Não abra mais a boca pra falar dela"

Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018 - Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018 Imagem: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

17/12/2019 19h38

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Depois de publicar em uma rede social que Marielle Franco, assassinada em março de 2018, era "engajada com bandidos" e foi "eleita pelo Comando Vermelho", a desembargadora Marília de Castro Neves acabou processada pela família da vereadora do PSOL. Em seu depoimento de hoje à Justiça, Marília argumentou que ao divulgar as informações falsas não teve intenção de ofender e "apenas" repetiu o que viu no Facebook.

Sem admitir em nenhum momento a responsabilidade na propagação das fake news, a desembargadora voltou a falar que a vereadora trabalhava com a autorização do Comando Vermelho em favelas do Rio de Janeiro.

Irmã de Marielle, a professora Anielle Franco comentou à coluna o depoimento de Marília de Castro Neves.

A própria Anielle depôs ontem no processo e a certa altura chorou bastante. "É muito cansativo. A gente tem que provar a essência e valor da minha irmã o tempo todo. Isso cansa", explica ela. "Foi uma mulher assassinada com mais de dez tiros que chegou ali com muito suor e aí vem uma pessoa qualquer que não sabe nada e fala atrocidades dela?"

UOL - O que achou do depoimento da desembargadora Marília?

Anielle Franco - Achei ela desrespeitosa. Uma coisa é a gente cometer um erro e assumir, outra coisa é ver o erro e persistir.
A desembargadora disse que não teve intenção de dizer que Marielle estava associada a bandidos, pois não a conhecia. Como recebe essa afirmação?
Não teve, mas fez. Me poupe! Lamentável. Uma desembargadora que copia e cola sem checar a procedência. Como chegou até o cargo que se encontra?

Marília disse que estava preocupada com a "repercussão exagerada" da morte de Marielle. O que acha disso?

Acho que com isso ela não tinha e nem tem que se preocupar. Quanto menos ela falar da minha irmã, melhor. Já que não conhecia, que não abra mais a boca pra falar dela.

Foi surpreendida por comportamento desse tipo vindo de uma desembargadora?

Claro que sim. Mas ao mesmo tempo é o típico comportamento dos cidadãos de bem que se multiplicaram em nosso país no último ano. Me deixa indignada, mas não me surpreende. O ser humano está realmente sem valor e sem empatia nos dias de hoje.

Pelo que sabe do processo, acredita que a desembargadora seja condenada?

Não sei. Mas espero que ela aprenda a lição de não falar sem saber. É o mínimo.

No seu depoimento, ontem, você foi às lágrimas. O que a emocionou naquele momento?

É muito cansativo. A gente tem que provar a essência e valor da minha irmã o tempo todo. Isso cansa. Foi uma mulher assassinada com mais de dez tiros que chegou ali com muito suor e aí vem uma pessoa qualquer que não sabe nada e fala atrocidades dela? É uma mistura de raiva e tristeza.