Agressões às religiões afro mostram que instituições não estão funcionando
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Outrora visto como país pacífico, lugar da diversidade e integração de culturas, o Brasil está degringolando para se tornar a terra da intolerância. Ao menos do ponto de vista dos seguidores das religiões de matriz africana. A escalada de ataques contra os terreiros de umbanda e candomblé tem aumentado, sob a negligência das autoridades. O último episódio, em Ribeirão Preto, foi de uma violência estarrecedora.
Na noite de segunda-feira, pelo menos 30 homens atacaram uma casa de umbanda no município paulista utilizando bomba caseira. Um bebê que estava no local chegou a desmaiar. Diante da reação dos presentes, os invasores partiram para a agressão com paus e pedras, um dos religiosos presentes teve os dentes quebrados.
Ao lamentar o ocorrido, a mãe de santo revelou que esse foi o quarto ataque sofrido pelo terreiro. Isso mesmo: pela quarta vez, pessoas que se reuniram em um espaço para professar sua religião foram atacadas justamente por esse motivo.
À imprensa, a polícia limitou-se a informar que o caso foi registrado e vai investigar. Resposta protocolar, da mesma instituição que não conseguiu prover segurança a esse grupo que por três vezes já havia sido agredido.
A cada absurdo desses, surge um engravatado para tentar tranquilizar aqueles que ainda se preocupam com a democracia. "As instituições estão funcionando", repetem.
Como se pode dizer tal coisa, se nos últimos anos, em vários estados, cidadãos brasileiros estão sendo atacados repetidamente apenas porque escolheram uma religião diferente da de seus agressores? Receber uma denúncia, ouvir testemunhas e dizer que tudo vai ser apurado não é o bastante para fazer crer que as instituições estão funcionando. É preciso punir os responsáveis por este e pelas outras agressões Brasil afora, é preciso prevenir novos casos.
A não ser que passemos a assumir que, como defendem alguns historiadores, as tais instituições brasileiras foram criadas para isso mesmo, reforçar e até garantir a opressão sobre os mais fracos, sob uma aura de normalidade. Se for esse o objetivo, estão mesmo em pleno funcionamento.
Enquanto as religiões neopentecostais avançam no Executivo, no Legislativo e no Judiciário (cogita-se até mesmo escolher um ministro do STF pelo parâmetro de que ele seja "terrivelmente evangélico") e os católicos mantêm o status de interlocutores privilegiados do poder político, os adeptos do candomblé e da umbanda têm que se proteger de bandidos que não respeitam seus orixás.
A Constituição, que garante a liberdade de crença, está sendo desrespeitada. Mas é pior ainda: as regras básicas de convivência em sociedade estão indo para o ralo e, sem mesmo que os brucutus o saibam, é o fascismo que está tomando o seu lugar. A palavra não é usada aqui desavisadamente: fascista é aquele que vê todo diferente como inimigo e quer eliminá-lo.
Não adianta encher as telas de TV, computadores e celulares com imagens das festas de matriz africana na Bahia em um ou dois dias, se no restante do ano aqueles mesmos religiosos têm que esconder sua fé ou professá-la com medo de ser aniquilado.
Os três poderes da República devem tomar providências urgentes para estancar essa modalidade de barbárie. Enquanto isso não acontecer, nenhuma autoridade brasileira terá credibilidade para dizer que "as instituições estão funcionando".
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