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Chico Alves

Pré-candidato a prefeito, Bebianno diz que Bolsonaro não liga para o Rio

Gustavo Bebianno - Walterson Rosa/Folhapress
Gustavo Bebianno Imagem: Walterson Rosa/Folhapress

Colunista do UOL

06/03/2020 19h52

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Foi feito em São Paulo o anúncio da mudança radical de planos do PSDB para tentar conquistar a Prefeitura do Rio. O ex-ministro Gustavo Bebianno, antigo colaborador e atual desafeto do presidente Jair Bolsonaro, tornou-se pré-candidato tucano à sucessão de Marcelo Crivella. Até quinta-feira, Mariana Ribas era a pré-candidata.

A reviravolta foi revelada pelo governador João Doria e pegou de surpresa o próprio presidente do partido, Bruno Araújo, que no Twitter manteve seu apoio a Mariana.

É nesse contexto que Bebianno começa sua longa caminhada para tentar conquistar a Prefeitura do Rio. "A situação está apaziguada, eu gosto muito do Bruno", garante o ex-ministro. A pré-candidatura será anunciada oficialmente no dia 4 de abril.

Nessa entrevista à coluna, Bebianno diz quais serão as prioridades, caso seja eleito. Adianta que a campanha terá as costumeiras críticas ao presidente Jair Bolsonaro, que o ex-ministro diz não ter capacidade cognitiva para entender os problemas do país.

Ele acredita que a desavença não atrapalharia a relação com o governo federal, caso seja eleito à prefeitura."Vou pressionar da forma certa e ele vai atender as demandas do Rio de Janeiro", promete.


UOL - Qual o motivo dessa reviravolta que o leva a ser pré-candidato à Prefeitura do Rio pelo PSDB?

Gustavo Bebianno - Como tudo na vida, as coisas têm um processo, uma fase de amadurecimento. A Mariana Ribas (até então, pré-candidata tucana) não estava muito feliz nessa caminhada política. Ela é uma profissional de mão cheia, de imenso valor que veio de baixo e se fez pela própria competência. Sempre foi técnica, sempre trabalhou na gestão da área de cultura.

Essa foi a primeira incursão dela na área política e ela estava infeliz, porque é um caminho muito árido, muito difícil por uma série de razões. Houve então o consenso de fazermos essa alteração. Continuamos no mesmo time, no mesmo barco, com os mesmos objetivos. Houve apenas uma mudança de posições no campo.

O sr. sempre anunciou a vontade de se candidatar. Por quais motivos quer ser prefeito do Rio?

Eu nunca escondi o desejo de ser candidato para ajudar a cidade do Rio de Janeiro. Uma coisa que me incomodava muito era a indiferença do Jair Bolsonaro em relação ao Rio. Ele não queria que o filho fosse eleito prefeito, inclusive atrapalhou a campanha do Flávio, com medo de se contaminar com os problemas cariocas. Depois, na campanha para governador, ele também não apoiou ninguém. Hoje ele mente, dizendo que apoiou o governador Wilson Witzel. Ele nunca apoiou Witzel. Quem deu uma certa carona, um certo empurrãozinho, e mesmo assim de forma muito tímida, foi o Flávio.

Essa indiferença do presidente em relação ao Rio de Janeiro como um todo, estado e cidade, isso sempre me deixou muito incomodado. Eu sou um outsider da política, sempre vivi do meu trabalho na iniciativa privada. Acabei nessa posição de tanta exposição, como colaborador do Jair, e acabei tendo essa projeção, com imagem e nome tão divulgados. Então, resolvi fazer do limão uma limonada. Já que estou na chuva, vou fazer alguma coisa pela minha cidade.

O presidente do PSDB nacional, Bruno Araújo, não gostou da troca de pré-candidatos e anunciou no Twitter que mantém o apoio a Mariana Ribas. O partido está dividido?

Houve um ritmo veloz na decisão final. O Bruno estava com a esposa dele hospitalizada e não acompanhou, foi um processo meio atropelado realmente. Estávamos em São Paulo e decidimos fazer o prévio anúncio.

O lançamento da pré-candidatura obviamente será no Rio de Janeiro. Mas como eu entrei para o partido pelas mãos do João Doria, e a Mariana Ribas também, devemos a ele satisfações. Bruno estava em Brasília, não acompanhou de perto. Ele, com razão, gosta muito da Mariana, que é uma figura admirável, por quem nós temos todo o carinho e respeito. A situação está apaziguada, eu gosto muito do Bruno.

Ao contrário do PSDB de São Paulo, o partido no Rio tem pouca expressão eleitoral e poucos recursos. Acha que tem chances reais?

Isso é curioso. O PSDB tem representatividade no Brasil inteiro ou quase inteiro, e pouquíssima representatividade no Rio de Janeiro. Exatamente por isso o Paulo Marinho assumiu o partido: pra dar ao PSDB o tamanho e a significância que ele merece. Em relação a recursos, lembro que coordenei uma campanha presidencial sem dinheiro. Então, o que vale aqui é a vontade, a garra de defender a cidade, porque está se deteriorando cada vez mais.

Precisamos de geração de empregos, riqueza. Por isso temos feito uma aproximação com estado de São Paulo. Porque o Rio é o primo lindo, mas é o primo pobre. São Paulo é o primo rico. Temos que acrescentar riqueza à nossa beleza e ao nosso potencial. As pessoas têm que ter oportunidade de trabalho e temos que combater essa miséria que assola o Rio.

Quais serão as prioridades da sua campanha?

A primeira prioridade é riqueza e geração de empregos, a segunda prioridade é gestão e a terceira prioridade é amor. Nós queremos uma cidade de coração aberto, uma cidade ecumênica, que abrace a todos os segmentos religiosos, a todas as pessoas, independente de suas opções sexuais, independentemente de suas escolhas pessoais. O Rio de Janeiro é uma cidade cosmopolita, cartão postal do Brasil, caixa de ressonância política do país. Tem que voltar a ser uma cidade alegre, colorida, viva, livre da violência e acima de tudo uma cidade rica.

Qual avaliação faz da gestão de Marcelo Crivella?

É um prefeito que não gosta da nossa cidade. Quero ressaltar aqui a visão do programa Roda Viva, que no lugar de entrevistar o prefeito atual, que está com o prazo de validade vencido, preferiu entrevistar o próximo, que será eleito agora em outubro (Bebianno foi entrevistado na edição mais recente do programa).

Mas a apresentadora Vera Magalhães deixou claro que o sr. foi convidado porque o prefeito Crivella não pôde ir, por causa das fortes chuvas na cidade.

(Bebianno apenas ri, sem falar nada)

Na campanha municipal veremos o sr. fazendo as habituais críticas ao presidente Jair Bolsonaro?

As críticas que eu faço são de um brasileiro que acredita que ainda vivemos numa democracia. Como não quero ver o Brasil na mesma situação da Venezuela, sob um governo autoritário, portanto sem investimentos, que empobrece cada vez mais, continuo a me manifestar. Me sinto no direito de fazer as minhas críticas.

É bem verdade que essas críticas acabam tendo uma dimensão maior do que outras pessoas por conta de todo o meu histórico. Mas acredito que a campanha municipal do Rio de Janeiro vai ser a mais barulhenta e a mais visível de todas as cidades do país por conta dessa conotação nacional que acabará tendo, até por curiosidade das pessoas, da própria imprensa.

Caso seja eleito, com o Rio tão combalido financeiramente, esse embate com o presidente Bolsonaro não vai prejudicar a cidade?

Não, porque eu tenho certeza que ele vai ter um choque de consciência e vai pensar no Rio de Janeiro, não em mim. Uma vez eleito, o que vale são as instituições. E apesar de ele nunca ter feito nada pela cidade, eu tenho certeza que dessa vez vai fazer, porque vou pressionar da forma certa e ele vai atender as demandas do Rio de Janeiro.

O governador João Doria usará a campanha do Rio para dar apoio à sua pretensão de ser presidente da República?

Não. A visão do governador de São Paulo é a gestão do seu estado. Nós não vamos cometer o mesmo erro do presidente, que desde o primeiro dia só pensa em reeleição. A diferença é a seguinte: o presidente Bolsonaro tem capacidade de gestão zero. Como ele não têm capacidade cognitiva para compreender os problemas do país e tentar encontrar soluções, ele só pensa em reeleição e em bobagem.

Já o governador João Doria, que tem uma capacidade gerencial monstruosa, pensa em gestão todo dia. O que acontecer em 2022 será consequência dessa gestão. Um processo natural, com o qual nós não nos preocupamos por enquanto.