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Chico Alves

Secretário preso hoje no Rio dizia que "não sabia de nada". E o governador?

26.mai.2020 - Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC-RJ) - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
26.mai.2020 - Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC-RJ) Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

10/07/2020 11h41

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Difícil pensar em crime mais cruel por parte de um gestor público do que, em plena pandemia de coronavirus, roubar dinheiro destinado a aparelhos, insumos e leitos para pacientes da doença. Diante de inúmeras evidências, o Ministério Público confirma que foi exatamente o que ocorreu no Rio. Por causa disso, mandou o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, para o xilindró.

Preso, terá muito tempo para criar uma versão sobre o desperdício de R$ 256 milhões, verba que resultou em quase nenhum benefício para a população fluminense. Com esse dinheiro, sua pasta contratou a organização social IABAS, já conhecida por outras acusações de falcatruas, que dos sete hospitais de campanha prometidos entregou apenas dois (e funcionando com 10% da capacidade). Dos mil respiradores comprados, somente 50 foram entregues — e não eram adequados à covid-19. Tudo feito sem licitação e com pagamento adiantado.

Convocado pela Assembleia Legislativa, Santos ficou em silêncio ao ser questionado pelos deputados fluminenses, na segunda-feira.

Um mês antes, quando surgiram as primeiras denúncias, feitas pelo jornalista Ruben Berta, no blog do Berta, ele soltou a estapafúrdia argumentação de que nunca teve conhecimento dos detalhes de contratação dos itens, que os números do contrato ficaram a cargo de seus subordinados.

Porém, em depoimento prestado ao MP, o ex-subsecretário estadual de Saúde, Gabriell Neves, preso desde o início de maio por conta das fraudes, contou história bem diferente. Era o próprio Edmar Santos que encaminhava as propostas de contratações emergenciais, chegando a aumentar o número de leitos previstos de 200 para 1.400.

Neves desfez assim um conto de fadas moderno: o do secretário de Saúde que não sabia nada que acontecia na Secretaria de Saúde.

A próxima fábula a ser desmanchada é a do governador que também não sabia nada sobre os gastos de uma das principais secretarias de seu governo. É o que alegou algumas vezes Wilson Witzel, preferindo se passar por inepto a ser acusado de corrupto.

A acusação de corrupção, no entanto, se materializou no processo de impeachment que tramita hoje na Alerj e do qual o governador parece não ter muitas chances de escapar.

Entre as explicações a dar, Witzel terá que nos fazer entender porque demitiu Edmar Santos em meio às denúncias de desvios na Saúde para readmiti-lo dias depois justamente como secretário-extraordinário de Acompanhamento da Covid-19 (!). Identificando a intenção do governador de blindar o ex-auxiliar com foro especial, o Tribunal de Justiça do Rio acabou com a brincadeira e determinou o afastamento do cargo.

A operação de hoje do MP deve ter deixado Witzel bastante preocupado. Ao ser trancafiado, Edmar Santos constatou que não é boa justificativa para uma autoridade essa de que não sabia o que se passava na secretaria que comandava. Por isso, o governador deveria pensar duas vezes antes de, na próxima entrevista, repetir que também não sabia de nada.