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Chico Alves

De ponta a ponta, a tragédia política do Rio parece nunca ter fim

Palácio Guanabara - Divulgação
Palácio Guanabara Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

18/09/2020 04h00

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A cada nova temporada de operações policiais contra a corrupção na política, ficam mais expostas as entranhas do poder no Rio de Janeiro. A linha do absurdo já foi transposta há muito tempo, mas as denúncias de tramoias continuam a se multiplicar, a lista de nomes importantes sob acusação só faz aumentar.

Parece que nada os constrange. Os predadores do dinheiro público estão em todas as instâncias da administração fluminense.

O cargo de governador é o mais achincalhado. Cinco passaram pelo xilindró (Moreira Franco, Garotinho, Rosinha, Sérgio Cabral e Pezão) e o atual, Wilson Witzel, está afastado, a caminho do impeachment. Mesmo o governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), foi alvo de busca e apreensão. Contra todos eles, houve ou há denúncia de corrupção.

Também a presidência da Assembleia Legislativa tem sido pródiga em encrencas. Estiveram na cadeia dois deputados que comandaram a Alerj (Jorge Picciani e Paulo Mello). O atual, André Ceciliano (PT), sofreu busca e apreensão em operação do Ministério Público do Rio.

A situação na Prefeitura do Rio igualmente não é nada boa. Marcelo Crivella,o atual prefeito, e Eduardo Paes, o ex-prefeito, foram alvos de busca e apreensão há duas semanas. Ambos estão na ponta das pesquisas de intenção de voto para a próxima eleição municipal. Além deles, dois outros candidatos a comandar o Executivo municipal foram citados em casos de corrupção: Paulo Messina e Cristiane Brasil. Esta última está presa.

Também é do Rio o senador que está sob a investigação mais rumorosa da República: Flávio Bolsonaro, acusado de ser beneficiado por um esquema de rachadinha quando era deputado estadual.

O lamaçal do poder no estado é tão profundo que até os responsáveis pela fiscalização dos políticos são suspeitos. Cinco conselheiros do Tribunal de Contas do Estado foram presos em 2017. O ex-procurador-geral de Justiça, Cláudio Lopes, virou réu em fevereiro por corrupção passiva, formação de quadrilha e violação de sigilo funcional.

Por fim, para que não reste a menor dúvida de que a situação do Rio é singular, é preciso assinalar que nem o juiz federal da incensada Operação Lava Jato, Marcelo Bretas, se livrou de alguma suspeita. Recebeu ontem censura do TRF2 por praticar autopromoção e superexposição de sua imagem, ao participar de evento político com o presidente Jair Bolsonaro, o prefeito Marcelo Crivella e empreiteiros.

Pode-se imaginar que, diante desse cartel, a tragédia da política fluminense tenha chegado ao seu grau máximo. É oportuno lembrar, porém, que há muitos anos a população do Rio avalia que o fundo do poço chegou. Para descobrir, logo em seguida, que sempre é possível descer mais alguns metros.