Ricardo Salles é o homem certo no lugar certo
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Seja no meio da floresta amazônica, com um uniforme fake, ou em uma sessão virtual do Senado, a face de pedra do ministro Ricardo Salles não muda. O sorriso é nulo, o cabelo é meticulosamente esculpido, a voz é monótona. Nenhum ataque à política ambiental do país faz o chefão da pasta do Meio Ambiente mudar seu padrão.
Investido dessa armadura, Salles joga afirmações ao vento, sem dar a mínima se vai ser contestado por ambientalistas ou cientistas.
Renega dados do Inpe, instituto reconhecido internacionalmente por sua eficiência; induz a redução drástica da defesa de manguezais e restingas; faz praticamente desaparecer a cobrança de multas ambientais.
Defende garimpo em terra indígena, exalta acusados de grilagem, quer "bois bombeiros" no Pantanal contra os incêndios, como sua colega de governo, Tereza Cristina.
Fala e faz tudo isso sem demonstrar qualquer emoção. Resiste impávido às críticas por ter pregado "passar a boiada" da desregulamentação enquanto a imprensa estivesse preocupada com a covid-19. A péssima repercussão da fala infeliz na reunião ministerial parece não ter surtido qualquer efeito sobre ele.
Não é afetado pelas reclamações de chefes de Estado ou de investidores de fundos trilionários internacionais, preocupados com as florestas brasileiras. Segue em frente, com seus óculos de aros grossos, a desempenhar a missão a que se propôs.
Na última intervenção, foi à Chapada dos Veadeiros para olhar de perto o incêndio que por vários dias consumiu o bioma local. Acabou sendo alvo de protestos dos moradores por recomendar usar retardante, um tipo de composto químico prejudicial à natureza. Fugindo ao seu estilo impessoal, Salles respondeu que não iria se preocupar com as críticas de "maconheiros".
Apoiado por homens poderosos, para quem a fauna e a flora são apenas empecilhos para aumentarem seus lucros, o ministro do Meio Ambiente continua a todo vapor, sem hesitar um instante. Não houve até hoje organização da sociedade civil que o fizesse parar.
Ricardo Salles é o homem certo para dar conta da depredação ambiental do país. Enquanto as matas são queimadas e derrubadas, ele não move um músculo da face para expressar consternação.
Pelo que se sabe, inclusive, acende um charuto ao fim de cada dia, para saborear melhor a sensação do dever cumprido.
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