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Jacarezinho: Lógica da polícia do Rio e de Mourão torna Justiça dispensável
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Se levarmos em conta as entrevistas de delegados cariocas e do vice-presidente da República sobre a incursão na favela do Jacarezinho, que resultou no morticínio de 25 pessoas, o Brasil pode abolir o Poder Judiciário. Pela lógica deles, a polícia tem função de acusar, investigar, condenar e executar as penas.
Responsável pela investigação do caso, o diretor-geral do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa, Roberto Cardoso, já chegou à conclusão antes de apurar e disse que "não houve execução".
Segundo reportagem de Italo Nogueira e Júlia Barbon, publicada na Folha de S. Paulo, Cardoso alega que o assassinato do policial André Frias é evidência de que a polícia não entrou na favela para praticar uma execução.
"No início da incursão, o nosso policial foi alvejado e foi morto. Isso é a prova cabal de que não houve execução e houve sim uma necessidade real de um revide a uma injusta agressão", disse Cardoso.
Se um revide que custou 24 vidas é considerado algo normal por quem vai investigar a operação, o que esperar do material que será encaminhado ao Judiciário?
O delegado Felipe Curi, do DGPE (Departamento Geral de Polícia Especializada), foi outro a concluir pela culpabilidade dos 24 moradores mortos, mesmo antes de qualquer apuração.
"Não tem nenhum suspeito aqui. A gente tem criminoso, homicida e traficante", asseverou ele. Apesar disso, até o início da tarde o governo do Rio não identificou as vítimas.
Para Curi, a convicção parece bastar para taxar alguém como "criminoso, homicida e traficante".
Como arremate a essa aula de justiça sumária, o vice-presidente Hamilton Mourão também deu sua contribuição. Ao ser perguntado sobre as mortes no Jacarezinho, também arriscou veredito na manhã de hoje: "Tudo bandido".
Em um país que adota esse método de combate a criminosos, os juízes e os ministros de tribunais superiores podem aposentar a toga. Provas, testemunhas, averiguação, tudo isso se torna dispensável.
Basta que autoridades policiais ou figurões da República tenham convicção formada para que, mesmo antes de qualquer inquérito, alguém seja considerado culpado.
Em outros lugares do planeta, que podem ser chamados de civilizados, prática desse tipo jamais seria considerada como justiça.
Em tais países exóticos, essa conduta é chamada de justiçamento.
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