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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro não se emenda: volta a divulgar mentiras sobre a covid-19

O presidente Jair Bolsonaro em entrevista - Reprodução/Facebook
O presidente Jair Bolsonaro em entrevista Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

27/10/2021 14h16

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Uma semana depois de disparar talvez a mais nefasta mentira de seu extenso arsenal - a de que vacina contra covid-19 pode provocar contaminação por HIV -, o presidente Jair Bolsonaro retomou hoje a campanha criminosa para desestimular a imunização dos brasileiros. Na entrevista que concedeu à TV Jovem Pan, no dia de estreia da emissora, Bolsonaro atribuiu essa fake news a uma matéria da revista Exame (o que é falso), voltou a dizer que as vacinas podem ser equiparadas a medicamentos experimentais contra o coronavírus (o que é mentira) e repetiu que por já ter contraído covid tem imunidade maior do que aqueles que se vacinam (o que é lorota).

O presidente se sentiu bastante à vontade para falar todas essas barbaridades, já que em nenhum momento foi contestado pelo entrevistador.

Não que o comportamento irresponsável de Bolsonaro surpreenda, já que essa tem sido sua marca desde a campanha eleitoral. Mas diante da forte reação à cascata que divulgou na última live, esperava-se que tratasse de moderar um pouco a verborragia. Afinal, o presidente foi suspenso das redes sociais, criticado por cientistas e deu mais um motivo aos parlamentares para ingressarem no Supremo Tribunal Federal contra ele.

Nada disso. Bolsonaro não quer saber de moderação. De cenho franzido e expressão raivosa continuou a se esforçar para dar argumentos mentirosos aos brasileiros que não querem se vacinar:

- "O médico tem que ter autonomia". (Referia-se à cloroquina e medicamentos do tipo. É preciso lembrar que a força-tarefa do Ministério da Saúde que foi a Manaus em janeiro queria obrigar os médicos a usar essas substâncias. Ou seja: quem não quisesse prescrever o kit covid tinha autonomia zero)

- "A revista Exame faz uma conotação de que quem toma a vacina está mais propenso a ter contato com o HIV e se contaminar". (A revista não publicou essa informação, que Bolsonaro tirou de um site de fake news do Reino Unido)

- "Falar qualquer coisa de vacina virou crime". (É crime estimular as pessoas a não se imunizarem, colocando em risco suas vidas - especialmente quando quem faz isso é o presidente da República)

- "Se você está vacinado você está protegido, fique tranquilo. Não tem que se meter na vida de quem não quer tomar vacina". (O dever de todo governante é estimular a população a se imunizar, já que a pandemia só pode ser controlada quando pelo menos 70% estiverem vacinados)

- "Dizem os médicos infectologistas que uma pessoa que contraiu o vírus, como eu, tem muito mais imunidade do que quem tomou vacina. Ou não é verdade?". (Não é verdade. Quem teve covid-19 pode se infectar de novo e não tem imunidade maior que as pessoas que se vacinaram)

- "A vacina é experimental, assim como qualquer remédio para combater a covid é experimental". (No momento, não existe remédio para combater a covid-19. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que é órgão do governo, já esclareceu algumas vezes que as vacinas em uso no Brasil não são experimentais e todas tiveram seus dados de eficácia e segurança avaliados e aprovados pela agência reguladora)

Por sorte, os brasileiros não deram ouvidos às sandices que o presidente da República diz sobre o assunto e a adesão à vacinação no país é uma das maiores do mundo.

Mas a passividade das instituições diante de um presidente que se tornou inimigo da imunização de seus compatriotas em meio à maior pandemia da história, que por aqui resultou em mais de 600 mil óbitos, é algo perturbador.

Bolsonaro exercita diariamente uma crueldade inominável.

Ainda mais quando se leva em conta que nas campanhas de saúde pública a comunicação com a sociedade é fator fundamental.

Por isso, não são menos abomináveis os poderes Legislativo - exceção feita à CPI da Covid - e Judiciário que permitem ao presidente usar o mandato contra a saúde de seu povo até o último dia.