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Chico Alves

REPORTAGEM

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Depois da 'uberização', economista vê 'faxineirização' no Brasil

Tramado doméstico, empregada doméstica - Getty Images
Tramado doméstico, empregada doméstica Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

12/11/2021 04h00

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Depois do movimento de "uberização" do mercado de trabalho, em que parte da mão de obra perdeu vínculos empregatícios e passou a trabalhar sem direitos trabalhistas em empresas de aplicativos, o economista Marcelo Medeiros, da Universidade de Brasília e da Universidade de Columbia, identificou um novo fenômeno no Brasil. É a 'faxineirização', em que mulheres que trabalhavam como domésticas, com carteira assinada, perderam essa condição e passaram a ter vínculos informais ou passaram a ser microempreendedoras individuais (MEI), como as faxineiras.

"A 'faxineirização' mostra que o debate sobre mercado de trabalho no Brasil tem que levar em conta as desigualdades de gênero gigantescas", alertou Medeiros, ao participar da mesa-redonda "Como financiar a proteção social no Brasil?".

Ele destaca que 11% das mulheres brasileiras trabalham como empregadas domésticas. É a principal atividade das mulheres no Brasil - o comércio vem depois.

"Com a possibilidade de se contratar através de MEI e outros mecanismos, as famílias estão transitando de ter uma empregada doméstica para ter alguém que passa a trabalhar na categoria de faxineira", explica Medeiros. "Isso vai na mesma linha da 'uberização', só que numa faixa de renda mais baixa, porque a pessoa para dirigir Uber tem que ter um veículo, coisa que a massa da população brasileira não vai conseguir".

O economista afirma que a informalidade entre as mulheres é muito mais alta que entre os homens. Além disso, segundo ele, a rotatividade das mulheres dentro e fora do setor formal é muito grande. Isso tem a ver com vários fatores. Entre eles, o fato de as mulheres terem filhos.

"As mulheres pobres que têm filhos acabam saindo do mercado. Depois, retornam para uma atividade informal e, por fim, voltam à atividade formal, quando isso é possível. Ou então ficam oscilando. O problema é que isso acontece por vários anos", diz ele.

Medeiros explica que a "faxineirização" não está relacionada apenas com empregos domésticos, mas também com várias atividades similares.