Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Cobertura desproporcional da mídia amplificou desastre tucano
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O noticiário de política ganhou esse ano uma novidade exótica: as prévias do PSDB. Para o partido, o recurso pode até ser útil na escolha do presidenciável, mas para o público em geral o debate entre João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio parece gerar o mesmo interesse que aqueles programas de leilão no meio da madrugada ou um documentário sobre pesca. Por isso, foi surpreendente o espaço dedicado pela mídia ao assunto.
Houve quatro debates entre os postulantes tucanos, dois em emissoras de TV por assinatura e dois promovidos por jornais importantes. Algo que faz sentido nos Estados Unidos, onde há apenas dois partidos competitivos e um daqueles pré-candidatos será o presidente, mas que não parece ter muita lógica aqui, onde o pré-candidato tucano tem pouquíssimas chances de vencer.
As prévias acontecem justamente no momento de maior declínio do PSDB. A derrocada eleitoral começou com o resultado pífio de Geraldo Alckmin na corrida presidencial de 2018, quando o ex-governador teve apenas 4% dos votos, o pior desempenho da história da legenda.
Como consequência dessa campanha fracassada, o partido tem somente a sétima bancada da Câmara, com 20 deputados a menos que o tradicional rival, o PT.
Eleito governador de São Paulo, João Doria tenta a todo custo se tornar um nome nacional, sem sucesso. Mesmo depois de dar condições ao Instituto Butantan de oferecer aos brasileiros a primeira vacina contra a temida covid-19, batendo de frente com o presidente Jair Bolsonaro, Doria não passa de 5% nas intenções de voto.
Governador gaúcho, Eduardo Leite tem resultado ainda pior e Arthur Virgílio, como se sabe, está só cumprindo tabela.
Somente a torcida desesperada pelo surgimento de uma terceira via explica o tratamento vip dado pela imprensa às escaramuças internas do PSDB nos últimos meses. Nos bastidores da política é cada vez maior a aposta de que a candidatura a presidente dos tucanos não vai vingar e já há conversas para que o escolhido se junte a Sergio Moro, na tentativa de fazer frente a Lula e Bolsonaro, que lideram as pesquisas.
Criada a expectativa nas últimas semanas, o clímax deveria ter acontecido ontem, com a votação nas prévias e o anúncio do vencedor. Como se viu, foi tudo um grande fiasco. O aplicativo deu pau, nem 10% dos filiados conseguiram votar, houve discussão e xingamento. Conhecida como legenda de gente fina, o PSDB protagonizou um barraco daqueles, só faltou dedo no olho e puxão de cabelos entre os pré-candidatos.
O desastre ainda está em curso, já que não se sabe quando o nome do presidenciável tucano será conhecido. Dividindo-se entre bolsonaristas e antibolsonaristas, com ataques de parte a parte, o partido expõe suas vísceras ao público, enquanto alguns tentam fingir que a luta fratricida não passa de divergência civilizada.
Ironicamente, a cobertura desproporcional das prévias amplificou o mico. O partido virou tema de chacota.
Uma das piadas que correm nas redes sociais, sempre implacáveis, é que o PSDB conseguiu perder uma votação em estava concorrendo sozinho. Imagine o que pode acontecer na eleição presidencial.
Os tucanos já foram muito importantes para o país e ninguém ganha com a bagunça que se instalou no ninho de Doria, Leite e Virgílio. Mas para recuperar o protagonismo, a legenda precisará de muito mais que projetos eleitorais. Será obrigada a mostrar qual ideia de país defende, priorizar a defesa dos valores democráticos, definir de que lado está.
Ser bolsonarista e antibolsonarista ao mesmo tempo é algo impossível até para aqueles cuja tradição é equilibrar-se no muro.
Essas e outras contradições ficaram claras ontem, justamente quando os caciques do PSDB planejavam viver um momento de glória no horário nobre da TV.
Virou um case de antimarketing.
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