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Com muita polícia e sem serviços, Cláudio Castro tenta emplacar nova UPP
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Surgida em 2008 com ações cinematográficas de ocupações das tropas policiais nas favelas cariocas, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) foram a grande aposta do governo Sérgio Cabral para tirar do domínio do tráfico enormes áreas habitadas por moradores pobres. A ideia anunciada era que o policiamento de proximidade, em que os PMs atuariam em diálogo com a comunidade, substituiria as operações que normalmente deixavam saldo de muitos mortos e feridos. A implantação de serviços sociais fazia parte do plano.
A população acreditou na promessa de Cabral, tanto que o reelegeu para um segundo mandato. Mas a expansão atabalhoada do projeto para várias favelas sem a necessária reavaliação de erros e acertos acabou por levá-lo ao fracasso. A prometida ocupação social não aconteceu, os traficantes de áreas ocupadas fugiram e inflaram o comércio de drogas em regiões antes pacíficas e nas favelas com UPP restou a militarização da comunidade, com excessivo poder dos policiais sobre a vida dos moradores.
Inspirado na experiência de Cabral, o governador Cláudio Castro (PL) deu hoje início ao seu próprio projeto de ocupação das favelas, a que batizou de "Cidade Integrada". Cerca de 1.200 homens da PM e da Polícia Civil entraram e se estabeleceram na favela do Jacarezinho, a mesma comunidade onde uma operação policial resultou em 28 mortes, em maio do ano passado. Dessa vez, não foi disparado nenhum tiro.
Além do Jacarezinho, a favela da Muzema, na zona oeste da cidade, dominada pela milícia, também foi ocupada.
De saída, é impossível não pensar que a iniciativa tem objetivo eleitoral, já que Castro começa a "Cidade Integrada" a poucos meses de tentar se eleger governador - atualmente ele substitui Wilson Witzel (afastado por impeachment), de quem foi vice.
De qualquer forma, se alcançar os objetivos anunciados, de dar segurança aos moradores ao mesmo tempo em que possibilita a chegada de serviços sociais e oportunidades de emprego, não haveria como deixar de elogiar.
Os primeiros sinais, no entanto, são desanimadores. No primeiro dia de ocupação, só a polícia deu as caras nas comunidades. Não foi visto no Jacarezinho e na Muzema qualquer representante do poder público das áreas de saneamento, coleta de lixo, educação ou outra ligada a benefícios sociais.
Até mesmo porque o prefeito Eduardo Paes, responsável pela maior parte dos serviços que a comunidade necessita no cotidiano, esclareceu no Twitter que não foi avisado da ação. É bom lembrar que no mesmo dia da ocupação do Jacarezinho, em 2012, dentro do projeto da UPP, garis da Comlurb e funcionários do serviço social estiveram na área para recolher lixo e entulho, além de cadastrar a população mais necessitada. Dessa vez, os moradores só viram fuzis.
Somente no próximo sábado Castro vai anunciar quais são os itens dessa tal "ocupação social" prevista no projeto. Para a comunidade e para o Brasil, a imagem que fica por enquanto é a de tropas invadindo as favelas como se fossem terrenos inimigos.
Para um estado que está em sérias dificuldades financeiras - o governador foi hoje a Brasília para tentar convencer o ministro da Economia, Paulo Guedes, a renovar o Regime de Recuperação Fiscal -, Castro terá que explicar muito bem de onde vai tirar recursos para fazer o anunciado investimento prometido nessas áreas.
Até mesmo se for considerada pela lógica policial, os primeiros movimentos desse "Cidade Integrada" deixam a desejar. Nada impede que um dos efeitos colaterais das ocupações das UPPs, a fuga de criminosos para regiões onde acabaram abrindo novas frentes de tráfico, vá se repetir agora.
Outro ponto importante: na tentativa de ocupação anterior, milhares de soldados foram formados dentro da lógica do policiamento comunitário, algo que dessa vez não ocorreu.
É preciso incentivar qualquer tentativa de restabelecer a lei nas regiões em que contingentes enormes de trabalhadores sonham viver em paz.
Mas todo o cuidado é pouco para que esses moradores tão sofridos não se sintam mais uma vez usados politicamente. Cláudio Castro não tem o direito de frustrá-los mais uma vez.
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