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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ao ser cobrado, presidente não explica 'Imobiliária Bolsonaro' mais uma vez

Entrevista de Jair Bolsonaro à Jovem Pan - Reprodução de vídeo
Entrevista de Jair Bolsonaro à Jovem Pan Imagem: Reprodução de vídeo

Colunista do UOL

06/09/2022 16h53

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O presidente Jair Bolsonaro teve espaço hoje na sua emissora de estimação, a Jovem Pan, para dar uma entrevista. Na maior parte do tempo, Bolsonaro falou sobre as reportagens de Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, publicadas no UOL, que mostram que a família do presidente comprou 107 imóveis em 32 anos e que 51 deles foram adquiridos totalmente ou em parte com dinheiro vivo. Esse tipo de transação em espécie é um dos principais indícios de lavagem de dinheiro.

Desde que as matérias foram publicadas, há oito dias, o assunto caiu na boca do povo - e também na boca dos adversários do presidente. Ninguém pode afirmar que a família presidencial cometeu crime, mas o método heterodoxo usado para pagamento chama a atenção e ainda não foi explicado.

Bolsonaro teve uma ótima oportunidade para fazer isso hoje. Em ambiente amigável, na emissora chapa branca que apoia todas as barbaridades que faz e fala, poderia dar satisfação aos brasileiros sobre a origem do seu patrimônio e o de sua família. Mas preferiu atacar o veículo que publicou as reportagens e sacar mais algumas mentiras de seu vasto arsenal.

Se referiu a dois imóveis comprados pelo filho, senador Flávio Bolsonaro, como assunto já esclarecido. A verdade, porém, é que as investigações sobre esses bens continuam.

Para afastar a suspeita de que esses imóveis tivessem sido adquiridos por Flávio com dinheiro de rachadinha (o esquema de peculato que ele é acusado de ter organizado na Assembleia Legislativa do Rio), o presidente disse que o processo sobre essa maracutaia foi arquivado. Nada disso. Depois que provas consideradas ilegais foram anuladas, a investigação sobre os "rachadores" recomeçou da estaca zero.

Além disso, Bolsonaro deu a entender que os imóveis das ex-mulheres que estão sob suspeita foram adquiridos quando elas já estavam longe dele. Negativo. Em 1996, por exemplo, Rogéria comprou um apartamento em Vila Isabel, na zona Norte do Rio, com R$ 95 mil em dinheiro vivo. Na época, ela ainda estava casada com Bolsonaro.

De 1997 a 2008, o presidente foi casado com Ana Cristina Siqueira Valle. Escrituras pesquisadas pela revista Época revelam que na compra de cinco dos 14 imóveis que Ana Cristina e Bolsonaro adquiriram juntos, o pagamento ocorreu 'em moeda corrente'.

Além dessas e outras inverdades, o presidente reclamou de perseguição; acusou jornalistas de desrespeitarem a memória de sua mãe, falecida em janeiro, aos 94 anos (na verdade, a matéria deixa claro que não foi ela quem fez a transação imobiliária); protagonizou um ataque misógino à jornalista Amanda Klein, a única a confrontar as lorotas do presidente e aproveitou para fazer propaganda de seu governo.

Fez tudo, menos pronunciar a frase: "Não comprei nenhum imóvel em dinheiro vivo".

Também não explicou por quais motivos o clã comprou casas e apartamento em dinheiro vivo.

Muito menos esclareceu a origem do dinheiro usado na aquisição dos imóveis.

À jornalista Amanda Klein, Bolsonaro perguntou por qual motivo ela não seria obrigada a prestar contas de sua vida privada e ele sim. Ouviu da jornalista a explicação óbvia: ele é o presidente da República.

Não se sabe se o inquilino do Palácio do Planalto finalmente entendeu que deve transparência aos brasileiros.

o que se sabe mesmo é que após a entrevista de hoje os mistérios que cercam a "Imobiliária Bolsonaro" continuam.