Topo

Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nas ideias do centenário Darcy Ribeiro, um Brasil oposto ao de Bolsonaro

Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro - Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro
Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro Imagem: Reprodução/Fundação Darcy Ribeiro

Colunista do UOL

26/10/2022 20h06

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em meio à distopia brasileira, enquanto transcorre a corrida eleitoral que vai definir o verdadeiro espírito do país, uma data especial não poderia ser esquecida. Esse dia 26 de outubro marca o centenário de nascimento de Darcy Ribeiro. Difícil lembrar de outra personalidade brasileira que tenha conseguido êxitos tão monumentais em áreas de atuação tão diversas.

Como antropólogo, foi um dos responsáveis pela implantação do Parque do Xingu. Em sua gestão como ministro da Educação foi criada a Universidade de Brasília. No papel de vice-governador do Rio, criou o programa dos Cieps, a maior experiência nacional de ensino básico integral, e o Sambódromo.

Há muitas outras realizações marcantes.

Mas além do que é tangível, Darcy Ribeiro também foi muito bom em lidar com as ideias. Escreveu dezenas de livros acadêmicos e romances - alguns clássicos como Maíra e O Mulo.

Em tudo o que fez e escreveu, esse mineiro de Montes Claros deixou transparecer um olhar apaixonado para os caminhos que o criativo povo brasileiro sempre apontou, em contraste com a elite predadora. De nossa diversidade, ele imaginava que poderia nascer uma nova civilização, uma gente que iluminaria o mundo.

Difícil vislumbrar hoje utopia tão bela quando se está envolto nas nuvens negras do bolsonarismo.

Ou talvez justamente por isso seja mais do que nunca necessário buscar nas plataformas digitais as entrevistas de Darcy, ler os livros que ele escreveu.

Aí vai um esclarecedor diagnóstico feito por esse gênio para o Brasil. É uma verdadeira profecia contida em dois pequenos trechos do livro "Confissões", sua autobiografia, lançada em 1997:

"Tão contrastante é essa massa imensa, afundada na pobreza, com as minorias privilegiadas que formam uma espécie de país rico dentro do paisão faminto, que cabe perguntar quem é marginal no Brasil. Se marginais são os 60% de brasileiros paupérrimos ou se marginais são os que compõem a parcelinha de 1% dos super-ricos, legítimos representantes atuais da velha classe, desde sempre infiel ao Brasil e ao seu povo. Esses 'marginais' é que mais uma vez nos venceram ontem, conspirando e torturando, e nos vencem agora, subornando, mistificando".

"Mais penosa ainda é a postura das classes médias, que aderem francamente ao discurso das classes dominantes, sem resquício algum de consciência própria. No povão, apesar de sua vulnerabilidade, corre um rio profundo, uma consciência histórica que o faz recordar e reverenciar governos populares que se preocupavam com seu destino e que por isso foram derrubados, mas são ignorados e detestados pelas classes médias, que os classificam como populistas".

Para entender e mudar o Brasil, é indispensável ler Darcy Ribeiro.