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É preciso tirar extremismo da máquina pública, diz pesquisador do fascismo
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O ódio contra o adversário, que é visto como inimigo a ser eliminado, o nacionalismo exacerbado e a idolatria a um líder autoritário. Essas e outras características dão às manifestações bolsonaristas o clima de fascismo que por algum tempo alguns hesitaram em reconhecer. Agora que essa marca ficou clara, a questão que inquieta os democratas é: como livrar o Brasil de ideologia tão abjeta?
Estudioso da extrema-direita e coautor do livro "O fascismo em camisas verdes - Do integralismo ao neointegralismo" (editora FGV), o historiador Odilon Caldeira Neto, da Universidade Federal de Juiz de Fora, cita o método que deu certo no passado.
"Por mais que o bolsonarismo tenha base popular, está entranhado nas dinâmicas institucionais do Estado brasileiro. A relação da Polícia Rodoviária Federal e de algumas mobilizações de Polícias Militares mostra que o desafio passa por uma solução institucional. É preciso tirar o extremismo da máquina pública", explicou o professor à coluna. "Em certa medida, a experiência de desnazificação, no caso alemão, não foi só pensar quem foram os promotores, mas os alicerces institucionais para o nacional-socialismo. Isso pode nos dar algumas referências".
Segundo Caldeira Neto, o que acontece agora são manifestações antidemocráticas da extrema-direita que mobilizam linguagem e simbologia fascista.
O Brasil tem por tradição, ao lidar com as últimas experiências autoritárias, estabelecer processos de conciliação, diz ele. Para o professor, isso só posterga uma solução.
"Os indivíduos continuam entranhados na máquina estatal, entranhados no sistema político", lamenta. "É necessário mapear quem são essas figuras e retirá-los de centralidades políticas dentro da máquina pública. Paralelamente, é necessário estabelecer processos de educação que forneçam barreiras para o discurso radical".
O historiador diz que o fascismo integralista é uma das bases fundamentais do imaginário político da extrema-direita brasileira. Isso diz respeito, sobretudo, à forma como os adeptos do integralismo enxergavam as finalidades da política. "Para eles, a política é um campo de demonização e perseguição de oponentes, de anticomunismo. Atribuíam comunismo a quaisquer expoentes", relata.
Caldeira Neto diz que não é necessário que esses grupos ou essas tendências mais atuais reivindiquem o estatuto político do fascismo do Século 20, mas que enxerguem a sociedade e a política de uma forma comum. "Em um momento de crise política, de crise econômica, de radicalização da práxis política cotidiana, essas ideias passam a ser mais reivindicadas e incorporadas na realidade", avalia.
O historiador avalia que a tecnologia potencializou o fascismo e os discursos extremistas em geral. O apelo ao ultraindividualismo e a relação de laços de comunicação entre grupos extremistas fornecem algumas dessas dinâmicas de integração.
"As redes não são a explicação única para o fenômeno, mas fornecem uma estrutura em que grupos que não encontravam espaço de articulação nas democracias sólidas agora encontram câmaras de eco, com o discurso sendo ouvido e repetido de forma maior e mais intensa", explica. Além disso, as redes possibilitam uma solidariedade entre indivíduos que constroem ou sedimentam uma identidade própria em torno dos processos de radicalização".
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