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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Inspirador da baderna em Brasília, Bolsonaro tem que ser punido

Bolsonaro fala a apoiadores no Palácio da Alvorada - Reprodução/Redes Sociais
Bolsonaro fala a apoiadores no Palácio da Alvorada Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Colunista do UOL

13/12/2022 04h00

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A campanha que Jair Bolsonaro empreendeu durante quatro anos para desacreditar o processo eleitoral brasileiro é o combustível que moveu manifestantes às rodovias e às portas dos quartéis para contestar o resultado da eleição vencida por Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente atual não mostrou uma prova ou indício de fraude sequer contra a urna eletrônica, mas semeou a dúvida nas mentes mais frágeis. Todo prejuízo material ou violência física decorrente desse movimento golpista deve ser, portanto, cobrado de Bolsonaro.

Sua mais recente contribuição ao caos aconteceu na sexta-feira (9), quando quebrou o silêncio que durava desde o segundo turno da eleição. Falando a apoiadores, à frente do Palácio da Alvorada, o atual presidente botou lenha na fogueira: "Nada está perdido. O final, somente com a morte. Quem decide meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês".

Estava claramente insuflando a turba a continuar reivindicando ruptura institucional.

Naquela ocasião, disse também aos bolsonaristas que não deveriam esperar que ele desse a senha para a ação: "Não é 'eu autorizo', não, é 'o que eu posso fazer pela minha pátria'. Não é jogar a responsabilidade para uma pessoa".

Assim, de forma covarde, Bolsonaro sugeriu que os seguidores tomassem a iniciativa por si próprios, sem esperar por uma ordem sua. Talvez imaginasse que isso tiraria de seus ombros a culpa pelo que venha a acontecer.

Não adiantou. Todas as consequências do terrorismo da turba radical devem ser cobradas de Bolsonaro.

A baderna de ontem à noite, que transformou o centro de Brasília em cenário de batalha campal, tem o dedo do presidente da República.

Pelo menos cinco ônibus e dez carros de passeio foram queimados porque manifestantes queriam resgatar um cacique bolsonarista preso pela Polícia Federal. Há vários dias, o homem provoca os agentes da lei em Brasília, à frente de um grupo golpista. Além de apoiador, o indígena é interlocutor do presidente.

Durante a balbúrdia, Bolsonaro não fez nenhuma declaração pedindo a manutenção da ordem ou anunciando a punição dos responsáveis, como faria um mandatário normal.

O silêncio de Bolsonaro sobre a ação dos baderneiros em Brasília, que qualquer autoridade responsável condenaria, é mais um indício de que por trás daquela horda está alguém muito poderoso: o próprio presidente da República.

Seja por ação ou por omissão, o atual ocupante do Palácio do Planalto deu colaboração significativa ao clima de terror vivido ontem pelos brasilienses.

Espera-se que ele não se beneficie da sua costumeira impunidade mais uma vez.