Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Com omissão no caso de yanomamis, Exército marca tristemente sua história
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Desde que parte dos generais resolveu embarcar no projeto de candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República, as Forças Armadas se expuseram a um inédito projeto de desconstrução. A decantada neutralidade política foi por água abaixo. Militares se envolveram em uma sucessão de episódios lamentáveis, da colaboração na produção de cloroquina à participação na infame campanha de descrédito que Bolsonaro liderou contra as urnas eletrônicas.
É extensa a sequência de ações questionáveis empreendida por generais como Braga Netto, Hamilton Mourão, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos e Paulo Sérgio Nogueira. Praticamente todas as sandices praticadas por Bolsonaro tinham a participação de ao menos um desses estrelados.
Mesmo depois do fim do governo de Bolsonaro, essas aberrações continuam vindo à tona.
É o caso da colaboração do Exército com golpistas que praticaram a depredação terrorista contra as sedes dos três Poderes, em Brasília. Bandidos e fanáticos ficaram acobertados nas proximidades do QG. Ali, terroristas preparam artefatos explosivos. Dali saíram para tentar instalar o caos na capital, nos dias 12 de dezembro e 8 de janeiro.
Mesmo depois da depredação aos prédios do Executivo, Legislativo e Judiciário, as hordas ainda foram protegidas pelo comandante do Exército, Júlio César Arruda, que acabou demitido por isso.
Esses absurdos já seriam graves o bastante, mas agora, com a revelação dos detalhes sobre a omissão do Exército na defesa da comunidade yanomami em Roraima, o conceito da força terrestre fica ainda mais desgastado.
Como explicar que uma das áreas de maior ocupação de garimpeiros na região está situada próxima ao 4° Pelotão Especial de Fronteira do Exército (PEF), de Surucucu? Foi ali que se registrou o maior número de crianças yanomamis subnutridas e mortas.
Como justificar que militares do Exército participassem do mesmo grupo de WhatsApp com garimpeiros para avisá-los de ações de repressão ao garimpo no território yanomami, como mostra relatório da Funai?
Quais motivos poderiam justificar o fato de que militares da reserva que estão na direção do Ibama ignoraram os pedidos de socorro dos indígenas?
Outro destacado general da reserva, Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), tem argumentos racionais para explicar a permissão para mineração de ouro em área de 9,8 mil hectares próximo à Terra Indígena Yanomami?
Tristemente irônico que esse tipo de tratamento dado aos indígenas venha justamente de uma força que teve em seus quadros o marechal Cândido Rondon, pioneiro na exploração da Amazônia e na preservação das comunidades indígenas.
Foi ele que, na década de 1950, após décadas de trabalho em favor dos povos originários, ajudou a criar o Parque Nacional do Xingu.
Se o Exército Brasileiro tem hoje homens à altura da grandeza de Rondon — que disse ser capaz de morrer pelos indígenas, mas nunca matá-los —, que eles se apresentem urgentemente.
Pelo bem dos yanomamis e pelo bem do próprio Exército.
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