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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jogador Wallace descobre, surpreso, que incitar 'tiro na cara' é violência

Wallace Souza, jogador da seleção de vôlei e do Cruzeiro - Reprodução de vídeo
Wallace Souza, jogador da seleção de vôlei e do Cruzeiro Imagem: Reprodução de vídeo

Colunista do UOL

01/02/2023 04h00

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Nos últimos anos, os brasileiros viram se tornar cada vez mais frequentes declarações criminosas de bolsonaristas nas redes sociais, prometendo ou incitando violência contra adversários. Na mesma proporção, a cada vez que as ameaças provocam alguma onda de críticas, os brucutus se apressam em pedir desculpas, para tentar evitar alguma punição legal.

A maior parte dessas retratações não tem consistência, pela falta de sinceridade.

Muitas vezes os ofensores alegam que os impropério eram, na verdade, palavras "fora de contexto". Ou então condicionam as desculpas apenas "a quem se sentiu ofendido", tornando assim a ofensa uma questão de interpretação de quem a leu.

Puro cinismo, que já se tornou prática comum.

Ontem, porém, esse ritual cínico foi ao ponto máximo.

Após uma postagem bizarra sobre o presidente Lula, o jogador da seleção brasileira de vôlei e do time Cruzeiro/Sada Wallace Souza fez um pedido de desculpas sem pé nem cabeça.

Tudo começou quando Wallace postou no Instagram enquete em que perguntava quem daria "um tiro na cara do Lula". Ao lado, a foto em que aparecia portando uma espingarda calibre 12.

Não demorou para que desabasse sobre ele uma chuva de críticas. Além disso, a previsível reação da Advocacia Geral da União (AGU) deve levar o atleta a se explicar na Justiça.

Diante das consequências, Wallace publicou um vídeo a título de retratação. Começa dizendo que a postagem gerou "repercussão social muito ruim", passando recibo de que o pedido de desculpas não é fruto de arrependimento, mas apenas tentativa de redução de danos.

Wallace continua: "Quem me conhece sabe muito bem que eu jamais incitaria violência em hipótese alguma, contra qualquer pessoa, principalmente nosso presidente".

Se perguntar em uma plataforma de redes sociais quem daria "um tiro na cara" de Lula não é incitação à violência, o que seria, então?

No vídeo curto, Wallace tenta simular alguma dignidade por "assumir o erro" pelo "post infeliz", mas em seguida reforça a afirmação anterior: "Jamais tive a intenção de incitar a violência, ódio, não é da minha pessoa. Não foi isso que o esporte me ensinou e não é isso que eu quero passar para ninguém".

Que o jogador de vôlei aprenda, então, de uma vez por todas: perguntar publicamente se alguém deve levar um tiro na cara incita a violência e o ódio, sim. Se esse tipo de enquete estiver associada a uma foto em que ele posa com uma espingarda, pior ainda.

Surpreso, Wallace?

Só uma pessoa com o intelecto gravemente comprometido - alguém que a linguagem popular rotularia como "burro" - poderia dizer que não sabia disso.

Se sabia, essa alegação estapafúrdia pode ser associada à falta de caráter de quem recorre à primeira justificativa que lhe vem à cabeça, apenas para tentar se livrar da encrenca o mais rápido possível.

Em qual das duas alternativas se enquadra o atleta da seleção de vôlei?

Seja em qual for, isso não o livrará do processo certamente que vem por aí.