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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Das fake news bolsonaristas ao título da Imperatriz, o CPX merece comemorar

estilização do boné CPX e bandeira da Imperatriz Leopoldinense - Divulgação
estilização do boné CPX e bandeira da Imperatriz Leopoldinense Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

22/02/2023 19h06

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Não bastassem as enormes dificuldades que os moradores das comunidades pobres do Rio enfrentam diariamente - falta de infraestrutura urbana, violência policial, preconceito -, o Complexo do Alemão recentemente foi alvo de uma saraivada de mentiras por parte de Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Aconteceu em outubro, depois que o ainda candidato Lula esteve por lá, cumprindo agenda de campanha. O petista ganhou um boné com a inscrição CPX, abreviatura da palavra "Complexo".

A reação dos bolsonaristas foi espalhar nas redes sociais a lorota de que a s três letrinhas tinham relação com uma facção do tráfico. O próprio presidente Bolsonaro foi explícito ao mentir que Lula tinha ido até à favela para se encontrar com traficantes. Deputados bolsonaristas, como Nikolas Ferreira (PL-MG), repetiram a cascata do chefe.

Em entrevista à coluna, logo após os ataques, o ativista comunitário Renê Silva, anfitrião de Lula, disse não se surpreender. "Quando se trata de favelas, sempre acontecem preconceitos, ataques racistas", lamentou. "Sempre tentam incriminar todo mundo, colocando no mesmo pacote como se todos os moradores fossem bandidos. Então, já era de se esperar esse tipo de ataque".

Como reação às mentiras de Bolsonaro e seus asseclas, a venda de bonés com a sigla CPX disparou. Tanto moradores da comunidade quanto pessoas de fora, solidárias ao complexo, fizeram do item um acessório hype.

As fake news bolsonaristas não surtiram efeito. Como se sabe, Lula venceu a eleição.

Mas faltava ainda uma reparação aos moradores da favela.

E ela veio. Não da parte de Bolsonaro, que não tem a dignidade de reconhecer erros.

A reparação veio da plateia da Marquês de Sapucaí, que vibrou com a escola de samba da comunidade, a Imperatriz Leopoldinense, no deslumbrante desfile da segunda-feira, com enredo em homenagem ao cangaceiro Lampião.

Hoje, a comunidade do Complexo do Alemão completou a festa: comemora o título de campeã, conquistado pela agremiação depois de 22 anos de abstinência.

A vitória não poderia ter vindo em melhor ocasião.

O complexo tornou-se notícia nacional, não pela criminalização de seus moradores, como Bolsonaro, bolsonaristas e outros personagens do gênero tentaram propagar.

O Brasil hoje sabe que foram eles, os moradores da comunidade, os autores do primor artístico que a Imperatriz levou ao Sambódromo.

Foi daquele pedaço segregado do Rio de Janeiro que saiu essa gigantesca combinação de beleza e criatividade, uma obra-prima da cultura popular.

Para quem não conhecia esse lado talentoso do Alemão, a apresentação está feita — e em grande estilo.

Muito prazer, CPX.