Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Michelle, mais uma mulher da política que atua contra direitos das mulheres
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A onda de reacionarismo que inundou o Brasil desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder levou muitos espécimes exóticos ao cenário político e mesmo depois de quatro anos esse movimento ainda consegue surpreender. Nos últimos dias, o regressismo destacou algo que há poucos anos seria impensável: mulheres da política que lutam contra os direitos das mulheres.
Como se sabe, não são somente os homens que sustentam o machismo, muitas mulheres reproduzem a lógica machista estrutural. Mas que elas exibam essa característica com tanto orgulho em espaços políticos, não deixa de ser surpreendente.
Foi o que aconteceu na quinta-feira (4), na votação do projeto de lei que obriga o empregador a pagar às mulheres salário igual ao dos homens quando trabalharem na mesma função. Uma óbvia reparação de injustiça. Mas não entenderam assim 36 deputados que votaram contra. Entre estes, dez mulheres.
Para Rosângela Moro (União-SP), Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP), Silvia Waiãpi (PL-AP), Dani Cunha (União-RJ), Caroline de Toni (PL-SC), Julia Zanatta (PL-SC), Adriana Ventura (Novo-SP), Any Ortiz (Cidadania-RS) e Chris Tonietto (PL-RJ) as mulheres devem continuar a ganhar menos que os homens, mesmo trabalhando em cargo semelhante. (Veja ao fim do texto os nomes dos outros deputados que votaram contra o projeto).
Todas são bolsonaristas. A exceção é Rosângela Moro, que na verdade é lavajatista, mas por conveniência estratégica abraçou o bolsonarismo, uma versão do lavajatismo com volume mais alto.
Apesar dos votos delas, o projeto foi aprovado.
Ontem foi a vez da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Destaque no encontro de mulheres do PL, ela atacou uma das poucas iniciativas em favor da participação das mulheres na política implantada em décadas. "Queremos erradicar a cota dos 30%, queremos a mulher na política pelo seu potencial", bradou.
Diante da péssima repercussão, gravou vídeo fazendo uma "retificação", para defender o oposto do que tinha dito.
A julgar pelas falas anteriores de Michelle, defendendo a subserviência das mulheres diante dos homens e privilegiando suas atribuições no lar, não é difícil concluir qual das duas declarações expressa verdadeiramente o que pensa a ex-primeira-dama.
Que as mulheres eleitoras guardem na memória esse momento e mostrem a políticas e políticos desse naipe qual é o verdadeiro poder do voto feminino.
A seguir, os nomes dos deputados que votaram contra o projeto que estabelece salários iguais para homens e mulheres que exercem a mesma função: Alberto Fraga (PL-DF), André Fernandes (PL-CE), Bibo Nunes (PL-RS), Capitão Alden (PL-BA), Carlos Jordy (PL-RJ), Cb Gilberto Silva (PL-PB), Deltan Dallagnol (Podemos-PR), Dr. Jaziel (PL-CE), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Evair de Melo (PP-ES), Filipe Martins (PL-TO), General Girão (PL-RN), Gilson Marques (Novo-SC), Junio Amaral (PL-MG), Kim Kataguiri (União-SP), Luiz Lima (PL-RJ), Luiz P.O Bragança (PL-SP), Marcel van Hattem (Novo-RS), Marcio Alvino (PL-SP), Mauricio Marcon (Podemos-RS), Maurício do Vôlei (PL-MG), Ricardo Salles (PL-SP), Rodolfo Nogueira (PL-MS), Sargento Fahur (PSD-PR), Sgt. Gonçalves (PL-RN). O voto do deputado Rui Falcão (PT-SP) apareceu como contrário ao projeto, mas ele alegou "erro técnico" e informou que enviou ofício à Câmara pedindo retificação.
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