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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro e Tarcísio se preocupam mais com 'narrativa' que com reforma

Colunista do UOL

06/07/2023 16h41

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Para muita gente, a treta ocorrida esta tarde na reunião do PL entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o governador Tarcísio de Freitas é a prova de que os dois são diferentes. Não é verdade: os argumentos usados na divergência provam que eles são iguais.

Nem Bolsonaro e nem Tarcísio parecem se importar com o conteúdo da reforma tributária. A verdadeira preocupação deles é com a 'narrativa', ou seja, quem vai ser visto como vitorioso caso a PEC seja aprovada.

A palavra 'narrativa' foi usada várias vezes pelo governador de São Paulo. Foi esse o principal argumento que Tarcísio, adepto do bolsonarismo 2.0, menos explícito, usou com a plateia do PL, em sua maioria composta por bolsonaristas raiz.

"A direita não pode perder a narrativa de ser favorável a uma reforma tributária. Porque senão a reforma acaba sendo aprovada, e quem aprovou?", questionou à certa altura, deixando clara a preocupação com o fato de que a esquerda pode levar os louros.

Só na frase seguinte ele disse querer "construir um bom texto".

Em outro trecho da sua fala, se dirige aos ouvintes para perguntar: "Nós vamos perder a narrativa da reforma tributária?". Em seguida, parte dos presentes responde: "Sim!".

Bolsonaro, por sua vez, não usa a palavrinha mágica, mas emite todos os sinais de que é contra a reforma apenas para não dar ao governo a possibilidade de se autopromover.

Ninguém sabe ao certo por quais motivos o ex-presidente é contrário à PEC, já que ele não deu nenhum argumento técnico, econômico ou de qualquer outra natureza. Apenas reclama do tempo curto para analisar o texto.

O perrengue que Tarcísio passou diante da plateia de bolsnaristas hostis não pode enganar a visão.

Apesar da óbvia diferença de estilos, o governador de São Paulo e Jair Bolsonaro têm ainda muitas semelhanças.

Mesmo que deixem de ser aliados, ambos continuarão dando menos atenção a fatos reais do que a narrativas que os favoreçam.

E, claro, que mantenham seus eleitores hipnotizados.