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Ameaça de caminhoneiros, combustíveis e inflação assombram Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro em cerimônia de despedida dos ministros que deixam o governo para concorrer às eleições - Pedro Ladeira - 31.mar.22/Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro em cerimônia de despedida dos ministros que deixam o governo para concorrer às eleições Imagem: Pedro Ladeira - 31.mar.22/Folhapress

Colunista do UOL

30/05/2022 00h10

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* Cesar Calejon

Na reta final do período que antecede a eleição presidencial de outubro, o governo Bolsonaro vive o seu pior momento, assombrado, fundamentalmente, por três fantasmas: a ameaça de uma greve dos caminhoneiros, o preço dos combustíveis e a inflação.

O líder caminhoneiro Wallace Landim, conhecido como Chorão, afirmou, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, que os caminhoneiros não querem fazer a greve, "mas com a situação em que o país está, e piorando cada vez mais, somos obrigados a fazer uma paralisação".

Landim, que foi um ferrenho defensor do governo Bolsonaro ao longo dos últimos anos, agora reclama que a situação se tornou insustentável. O aumento acumulado no preço do diesel nos últimos doze meses foi de 49% e, na terceira semana de maio deste ano, o preço do combustível alcançou a marca de R$ 6,943, o que significa o maior valor da série histórica da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Contudo, o valor dos combustíveis afeta toda a população de forma mais ampla: em alguns estados, o litro da gasolina já custa mais de R$ 10 e o preço do botijão do gás de cozinha de treze quilos ultrapassa os R$ 130.

No começo da última semana, a diretoria da Petrobras enviou um ofício ao Ministério de Minas e Energia, alertando para o risco de desabastecimento de diesel no Brasil. Desde que assumiu a Presidência da República, Bolsonaro já trocou os líderes da Petrobras múltiplas vezes, cogitou privatizar a empresa e, no momento pré-eleitoral, encontra-se desesperado na posição de refém dos seus próprios atos.

Por fim, a inflação, resultado de uma política econômica desastrosa, que viu o seu "posto Ipiranga" prometer crescimento e prosperidade, mas entregar miséria, fome e combustíveis caros, ultrapassou a casa dos dois dígitos e é o último fantasma que assombra o bolsonarismo.

Para piorar ainda mais o cenário econômico nacional, que é o principal fator responsável pela escolha do próximo presidente para a maioria da população brasileira, o conflito entre a Rússia e a OTAN, que vem usando a Ucrânia como ponta de lança no embate, não demonstra sinais de arrefecimento.

Neste sentido, ao que tudo indica, os principais fantasmas que assombram o bolsonarismo deverão ganhar ainda mais força ao longo dos próximos meses.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).