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Bruno e Dom foram mortos como Tiradentes e Chico Mendes

Chico Mendes em 1988 - Miranda Smith/Wikimedia Commons
Chico Mendes em 1988 Imagem: Miranda Smith/Wikimedia Commons

Colunista do UOL

16/06/2022 11h43

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* Vinícius Rodrigues Vieira

Desafiadores do poder constituído. Defensores de princípios que mais se coadunam com o interesse nacional que com lobbies que capturam o Estado em prol de interesses privados. Mortos com o beneplácito de autoridades. Esquartejados para que sirvam como exemplo do risco que todos corremos ao desafiar as carcomidas estruturas de um projeto de país — ou, melhor dizendo, de não-país, a anti-nação que se põe de joelhos para interesses escusos e de costas para o povo.

Os elementos que conduziram ao assassinato de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira são análogos àqueles que levaram Tiradentes à forca. Tire a palavra Brasília e substitua-a por Coroa Portuguesa. Pense em Derrama — o mecanismo que Lisboa poderia decretar para extrair mais tributos em meio à queda na produção de outro e que precipitou a Inconfidência Mineira — em vez de atividades ilícitas no coração da floresta. Tal e qual uma carga tributária elevada para manter privilégios, o garimpo irregular e o tráfico de produtos ilícitos dilapidam a nação com a anuência das autoridades.

Para o leitor que entende haver exagero na comparação com Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, fiquemos com outro brasileiro cujo nome também foi inscrito no livro de aço dos Heróis da Pátria: Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes. O líder seringueiro levou ao mundo a necessidade de defender a Amazônia não como ato de entreguismo, mas a afirmação dos direitos dos trabalhadores a usufruir de maneira sustentável dos recursos da floresta e, portanto, do interesse do próprio Brasil em manter a Amazônia preservada.

Impedido de exercer suas funções como servidor da Funai depois de levar a cabo uma operação que enfureceu fazendeiros, Bruno perdeu a vida em nome de uma causa. Se Mendes virou herói da pátria, mesmo destino deve ter o homem que levou ao extremo o significado de ser servidor público — um servo do povo e seus interesses. Já os que consentiram e estimularam o estado de coisas que propiciou esta tragédia devem ser jogados desde já na lata de lixo da história pelos braços da democracia.

* Vinícius Rodrigues Vieira é doutor em relações internacionais por Oxford e leciona na Faap e em cursos MBA da FGV.