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Datafolha confirma que Bolsonaro luta apenas para ir ao segundo turno

Presidente Jair Bolsonaro (PL) - Clauber Cleber Caetano/PR
Presidente Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR

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* Cesar Calejon

Desde a reeleição de Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno, em 1998, — mais de vinte anos atrás — todos os presidentes da República precisaram ir ao segundo turno para serem reeleitos. Nesse sentido, a pesquisa Datafolha publicada nesta quinta (18) indica que, na eleição deste ano, há boas chances do candidato Lula (PT) repetir FHC.

Isso porque a sondagem, que ouviu 5.744 pessoas em todas as regiões do País entre terça e quinta, demonstra que o ex-presidente Lula soma 51% dos votos válidos, excluindo os 6% de brancos e nulos, que é a forma como a Justiça Eleitoral decide o vencedor do pleito, em última análise.

Ou seja, a despeito de usar a máquina pública, incluindo emendas de relator, a PEC Kamikaze e todos os tipos de abordagens mentirosas e apelativas, a campanha de Jair Bolsonaro foi capaz de reduzir em apenas 3% a vantagem que Lula tinha no último mês, ainda segundo o próprio Datafolha.

No levantamento anterior, que foi apresentado no dia 28 de julho, Lula tinha 47% das intenções de voto no primeiro turno, contra 29% de Bolsonaro. Diferença de 18 pontos percentuais. Hoje, Lula segue com 47% e Bolsonaro tem 32%. Quase dentro da margem de erro, que é de 2% para mais ou para menos.

Um cenário muito parecido aconteceu em 2018, quando Bolsonaro, com 46% dos votos válidos, e Haddad, com 29%, foram ao segundo turno. Em seguida, Bolsonaro foi eleito com 55,13% dos votos válidos, conquistando 57.796.986 votos e Haddad teve 44,87%, o equivalente a 47.038.963 votos.

Soma-se a este contexto o fato de Lula ter o maior tempo de televisão no período eleitoral até o dia 2 de outubro. O espaço de cada candidato é calculado com base no número de deputados federais dos partidos que aderiram as suas respectivas chapas. Esse já é o primeiro fato que demonstra, espontaneamente, a força da campanha do ex-presidente.

Lula reuniu uma bancada com 141 parlamentares que conta com o apoio de dez partidos: PT, PSB, PSOL, PV, PCdoB, PROS, Solidariedade, Rede, Agir e Avante. Bolsonaro, mesmo se valendo da máquina pública de todas as maneiras possíveis, reuniu o apoio de quarenta deputados a menos do que o petista e apenas três partidos: PL, PP e Republicanos.

Neste contexto, Lula terá duas inserções diárias de 3 minutos e 21 segundos às terças, quintas e sábados, além de algo entre sete e oito peças publicitárias diárias de meio minuto cada durante a programação dos canais abertos de televisão. Já a campanha bolsonarista se apresentará com 2 minutos e 42 segundos para as propagandas fixas e seis inserções de trinta segundos.

A diferença pode parecer relativamente pequena, mas, no que diz respeito à rede nacional de televisão, ou seja, quando todos os canais abertos transmitirão a mesma mensagem à população nacional, não é. Sobretudo, porque nesta ocasião o uso de notícias falsas e outras táticas que são peculiares ao bolsonarismo e funcionam bem para o atual governo nas redes sociais digitais não poderão, em tese, pelo menos, ser aplicadas.

Tendo em mente todos esses aspectos, parece evidente que Bolsonaro apenas luta para ir ao segundo turno e, caso isso aconteça, a situação do atual presidente deve se assemelhar ao que aconteceu com a chapa de Haddad em 2018.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).

Errata: este conteúdo foi atualizado
O então presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito em primeiro turno em 1998, diferente do informado inicialmente no texto.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL