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Lula acerta ao não comparecer ao debate no SBT

Lula em participação no programa do Ratinho - Reprodução
Lula em participação no programa do Ratinho Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

24/09/2022 12h16

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* Cesar Calejon

Ao não comparecer ao debate presidencial deste sábado (24) no SBT, o ex-presidente Lula segue tendência já demonstrada anteriormente na campanha, de evitar exposição em veículos declaradamente bolsonaristas — como no caso de sua ausência na sabatina da Jovem Pan, algumas semanas atrás.

Neste caso, há duas razões fundamentais para Lula se ausentar do penúltimo debate presidencial do primeiro turno: (1) propriedade de Silvio Santos, o SBT, seguindo tendência histórica de alinhamento a governos autoritários, aderiu de modo convicto ao bolsonarismo e, por isso, poderia beneficiar o atual presidente no embate. Além disso, (2) Lula, que já tem 76 anos, precisa economizar as suas energias para o debate final, que será realizado na Rede Globo, no dia 29 de setembro.

Evidentemente, os opositores do ex-presidente deverão se articular de forma a afirmar que ele "fugiu" ou "correu" do confronto. Contudo, essa narrativa não deve causar grande impacto, considerando que um novo e muito maior debate acontecerá apenas cinco dias depois, muito provavelmente, com todos os principais candidatos, caso Bolsonaro aceite o convite da Globo.

Silvio Santos, além de posicionar-se publicamente a favor de Bolsonaro e, em alguma medida, ter tratado o presidente como seu patrão ao longo dos últimos anos, é pai de Patrícia Abravanel, que é esposa de Fábio Faria, ministro das Comunicações de Bolsonaro.

Ou seja, os assuntos entre o SBT e o atual governo são, literalmente, questão de família. Desta forma e para dizer o mínimo, seria pouquíssimo provável que tais vínculos não afetassem a dinâmica do debate em prol do atual presidente.

Cabe também ressaltar, conforme mencionado, que Lula, apesar da disposição e do vigor, já não é mais um jovem garoto e vem enfrentando uma campanha eleitoral duríssima. Seu visível tom rouco na voz demonstra o desgaste ao qual ele vem sendo submetido nos últimos meses, principalmente.

Nesse sentido, é acertada a decisão estratégica do ex-presidente de se comportar como um time que está na frente do campeonato, e às vésperas das rodadas finais. Um bom desempenho na última semana de campanha pode representar, em última análise, a sobrevivência da democracia brasileira com uma vitória no primeiro turno.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).