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Entendendo Bolsonaro

OPINIÃO

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Na véspera da eleição, golpismo bolsonarista deve unir o campo democrático

Os ex-presidentes FHC e Lula em encontro na casa do tucano em São Pauo nesta sexta (7) - Ricardo Stuckert/Divulgação
Os ex-presidentes FHC e Lula em encontro na casa do tucano em São Pauo nesta sexta (7) Imagem: Ricardo Stuckert/Divulgação

Colunista do UOL

28/10/2022 10h28

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* Cesar Calejon

Após uma semana péssima para Bolsonaro, durante a qual um dos seus aliados de primeira hora alvejou policiais federais com tiros de fuzil e granadas e o ministro da Economia do governo flertou abertamente com o fim da indexação do salário mínimo com base na inflação, o bolsonarismo resolveu sair da defesa e partir para o ataque no papel de vítima a fim de perpetrar um golpe de estado via o possível adiamento do pleito ou questionamento do resultado das urnas.

Contudo, a sanha golpista de Bolsonaro deverá unir, ainda mais, o campo democrático brasileiro, antes, durante e depois do segundo turno das eleições presidenciais.

A exemplo do que fez Donald Trump nos Estados Unidos em 2020, Bolsonaro deverá tentar judicializar a disputa presidencial após a sua derrota com base na alegação de que a sua campanha foi prejudicada por uma atuação parcial do TSE e de veiculações assimétricas de inserções de rádios no Nordeste.

No caso dos Estados Unidos, a bravata de Trump resultou na invasão ao Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2020, quando seguidores do ex-presidente estadunidense invadiram o Congresso e provocaram mortes, além de ferir outras pessoas e ocasionarem danos materiais.

Bolsonaro, contudo, cometeu um erro grosseiro considerando a estratégia do seu ídolo estadunidense: ele, efetivamente, iniciou o processo de judicialização da contenda eleitoral antes da votação do segundo turno, o que demonstra debilidade, desespero, falta de confiança na vitória e, por fim, reforça a unidade de todas as alas da política nacional, da esquerda à centro direita, que não querem mergulhar o país em um regime definitivamente autocrático.

Exatamente por isso, figuras como Neca Setubal, FHC, Amoêdo, Armínio Fraga, Henrique Meirelles e muitas outras, que sequer de longe são petistas ou esquerdistas, decidiram apoiar Lula publicamente.

A teoria da conspiração bolsonarista serve ao propósito de engrossar o conjunto de artifícios e falácias que será usado a partir de segunda-feira da próxima semana para contestar a validade das eleições, caso Bolsonaro seja derrotado. Infelizmente para o bolsonarismo, esse tipo de narrativa funciona melhor quando é aplicada de forma inadvertida e inédita, o que não é o caso.

Desde que assumiu a Presidência da República, Jair Bolsonaro e o seu secto vêm afirmando que não aceitariam a derrota nas urnas. Considerando que todos já fomos expostos a um roteiro absurdamente idêntico com a tentativa de Trump de sequestrar as eleições estadunidenses em 2020, o organismo social brasileiro está relativamente vacinado e pronto para o que Bolsonaro fará após a derrota.

Apesar disso, o campo progressista, dos liberais aos comunistas, precisa estar firme, forte e coeso para duas tarefas fundamentais que são de suma importância para o futuro do Brasil e devem ser executadas ao longo dos próximos dias e semanas: (1) derrotar o governo Bolsonaro nas urnas e (2) enfrentar o terceiro turno judicial que será promovido pelo bolsonarismo até o fim do ano.

* Cesar Calejon é jornalista, mestre em Mudança Social e Participação Política pela USP com especialização (MBA) em Relações Internacionais pela FGV. Autor de Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil, além de outras obras sobre o bolsonarismo.