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Crise Climática

OPINIÃO

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CEOs brasileiros apoiam descarbonização, mas cobram regulamentação estatal

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Imagem: Getty Image

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/09/2022 04h00

Esta é parte da versão online da newsletter Crise Climática enviada hoje (22). A versão completa, apenas para assinantes, traz ainda detalhes sobre a prisão do presidente da Associação Nacional do Ouro, e um novo relatório da Agência Internacional de Energia que sugere uma data para a produção de carros de emissão zero carbono entre as medidas para aumentar a cooperação global por tecnologias verdes. Quer receber o boletim completo na semana que vem, com a coluna principal e informações extras, por e-mail? Clique aqui e se cadastre.

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Uma pesquisa internacional do YouGov descobriu que a maioria dos CEOs de grandes empresas em sete grandes economias acreditam que a regulamentação estatal é indispensável para a descarbonização. No Brasil esta crença está acima da média do levantamento: 85% dos entrevistados avaliam que a ação governamental é o componente que falta para que políticas de emissão zero líquidas - os chamados planos net zero - alcancem todos os setores da economia.

O estudo foi encomendado ao YouGov pelo Instituto de Liderança em Sustentabilidade da Universidade de Cambridge (CISL) e entrevistou executivos em cargos de nível C (liderança principal da empresa) em mais de 700 companhias no Brasil, Japão, Índia, Reino Unido, EUA, Alemanha e África do Sul. A amostra contemplou 14% dos líderes empresariais de cada país, com 51% das companhias tendo mais de mil funcionários cada.

A pesquisa mostra um nível consistente de progresso da comunidade empresarial no desenvolvimento de estratégias net zero em todo o mundo. Entre as empresas brasileiras, 69% têm algum tipo de plano líquido zero em vigor, mais do que a média de todas as empresas pesquisadas. A falta de clareza sobre políticas e regulamentações no país, contudo, figura como o principal entrave à implementação, segundo as conclusões da pesquisa.

Há um consenso emergente vindo dos executivos empresariais de que, para entregar os planos net zero que já estão em vigor, políticas e regulamentações claras sobre net zero não são apenas necessárias: elas são desejadas
Catherina McKenna, presidente do Grupo de Especialistas de Alto Nível da Secretaria-Geral da ONU sobre Compromissos Líquidos de Emissões Zero de Entidades Não-Estatais

"Não podemos continuar confiando em compromissos voluntários para cumprir com o ritmo e a escala necessários para o desafio que estamos enfrentando", continua McKenna.

No Brasil, não há metas obrigatórias de redução de emissão em nenhum setor da economia —nem nos mais implicados nas emissões de gases de efeito estufa, como a agricultura, a pecuária e a fabricação de cimento. A tentativa de criação de um mercado de carbono no país tem fracassado pelo entendimento de que os esforços das empresas devem ser voluntários. Com isso, não há incentivo econômico concreto para a descarbonização, e a pesquisa mostra que apenas uma minoria dos líderes empresariais do país acredita que a falta de regulamentação é positiva.

Para 75% dos entrevistados no Brasil, as políticas e o ambiente regulatório são fundamentais para a implementação de seus próprios planos net zero. E 77% afirmam que investidores e o sistema financeiro também precisam estar sob regulamentação climática para influenciar suas empresas a aumentar suas ambições de descarbonização. Ambos os índices são superiores às médias totais para estas questões.

É ótimo ver empresas em todo o mundo apoiando a regulamentação necessária para transformar as economias globais e os setores nacionais. Estas descobertas apontam para uma situação em que muitas grandes empresas sentem que têm o investimento e plano que as levará ao zero líquido. Agora elas precisam das políticas governamentais corretas
Clare Shine, diretora do CISL

"Em um mundo de pressões e crises competitivas, a ação voluntária só pode nos fazer progredir até este ponto em que estamos, com a implementação na escala e no ritmo que precisamos como o passo seguinte a ser tomado", completa Shine.

Apesar do engajamento dos empresários brasileiros, a pesquisa faz um alerta em relação ao país: o Brasil está entre os que mais apostam em inovações tecnológicas que ainda não estão disponíveis no mercado para atingir emissões líquidas zero. 85% dependem consideravelmente ou marginalmente destas tecnologias, em comparação com 76% em média entre os países avaliados.

E o que mais você precisa saber

presidente da Colômbia - Reprodução - Reprodução
Gustavo Petro, presidente da Colômbia, em discurso na Assembleia-Geral da ONU
Imagem: Reprodução

HABLA MESMO

O discurso do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, na Assembléia Geral das Nações Unidas gerou constrangimento considerável para os países ricos. O mandatário sul-americano falou sobre a irracionalidade da guerra às drogas e denunciou o uso do agrotóxico glifosato sobre áreas de cultivo de coca, afetando também trechos de floresta em seu país. Ele acusou o Norte global de proteger a indústria de combustíveis fósseis, mesmo diante da ameaça existencial que ela representa. "Enquanto os hipócritas perseguem as plantas com venenos para ocultar o colapso de suas próprias sociedades, nos pedem mais e mais carvão, mais e mais petróleo para acalmar também um outro vício: o do consumo, do poder, do dinheiro." Na sequência, Petro se reuniu com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para discutir políticas climáticas.

bolsonaro unga - Bolsonaro é alvo de projeção no prédio da ONU, em Nova York. Presidente é chamado de "vergonha brasileira", "mentiroso" e "desgraça" - Bolsonaro é alvo de projeção no prédio da ONU, em Nova York. Presidente é chamado de "vergonha brasileira", "mentiroso" e "desgraça"
Bolsonaro é alvo de projeção no prédio da ONU, em Nova York. Presidente é chamado de "vergonha brasileira", "mentiroso" e "desgraça"
Imagem: Bolsonaro é alvo de projeção no prédio da ONU, em Nova York. Presidente é chamado de "vergonha brasileira", "mentiroso" e "desgraça"

NÃO COLA

Já o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou sua fala aos líderes mundiais para fazer campanha eleitoral. No seu país imaginário não há desmatamento, nem violência contra os indígenas, nem fome - o agro preserva o ambiente e alimenta todo mundo. Como arena internacional não é cercadinho, sua fala só gerou descrédito. "Infelizmente, os fatos in loco, com desmatamento recorde, violência impune contra comunidades indígenas e aqueles que as representam, bem como o esvaziamento dos órgãos de controle, falam por si", declarou à Folha Eric Christian Pedersen, diretor de investimento da Nordea Asset Management.

LISTA SUJA

De quebra, a ONU colocou ontem (21) o Brasil na sua "lista suja" pelo assédio de autoridades brasileiras contra a ativista Alessandra Munduruku durante a Conferência do Clima do ano passado, a COP26, em Glasgow no Reino Unido. Os detalhes você confere no UOL.

pataxós bahia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Indígenas relatam ataques contra ocupação na Bahia
Imagem: Arquivo Pessoal

GUERRA AOS INDÍGENAS

Somente entre os dias 3 e 13 de setembro, sete indígenas foram assassinados no Brasil, entre eles crianças e adolescentes. Lideranças indígenas de diversos estados, incluindo Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Roraima, fizeram um protesto em Brasília na semana passada para denunciar essa onda de violência marcada pelo assédio de fazendeiros e madeireiros sobre seus territórios. A reportagem do De Olho nos Ruralistas deu detalhes.

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